quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
FAZ NOVO
domingo, 24 de outubro de 2010
Ele, o amor.
Amor é o que existe de mais legal entre duas pessoas e que existe além até das duas pessoas, vivendo na cama, no caminho para a cozinha, na bagunça da sala, no cheiro da almofada e delicadezas do supermercado. Amor é um bocado. Se morasse na barriga, não caberia na boca de sopro do estômago, nem nos metros enrolados de intestino - o que talvez explique uma segunda locação. Amor parece mais um sorriso em forma de enzima, que espalha e adormece, que espalha e amolece, que espalha e encanta, e ri e junta pele. Amor é um cruzamento de dedos além-idade, anti-relógio, anti-espaço e anti-assento. É um olhar que está no outro, mesmo que pálpebras fechadas meia-noite. Quem tem um amor, na verdade, já é preenchido, como de algo ou outrem, como quem finalmente carrega o sol por dentro da blusa. Ufa! Amor é de fato uma demasia. Mas uma verdade tão de palma, tão de gente, que pele molhado seda ternura quente amor. Amor pousada mão sobre mim. Sorrio amor.
terça-feira, 28 de setembro de 2010
eu decidi
sem muita pompa
conversa ou alarde
assim como quem abre
a janela
desperta no meio da tarde
que viveria esse dia
em soltura e em verso
concentrada em encher o peito
em manter o espírito aberto
Não queria mais das horas
nem do futuro, nem do amanhã
queria meu café de tarde
meu cheiro no pescoço
e cuidar do desgosto do dia
quando me aparecesse o endosso
por enquanto nada mais
já é muito o que a vida traz
quem pensa mais do que sente
vive para si, quase ausente
da fartura do mundo
e eu, ao contrario, distraído,
vivo a parte que me cabe
vivo gozando de estar vivo
chamando esse cansaço gostoso
e essa entrega total
de minha paz primeira
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
M
Mulher
Em pé.
Mas em seu olhar
há algo de longo
há algo de seguro
há algo de seu
muito seu
Eis o que havia conquistado
Soube formar-se no próprio ventre
agora era ela
Uma Mulher
Em sua fecundidade
de dons.
Tão plena quanto inteira
os pés nus sobre o tapete
A pele reluzindo com os olhos
Verdadeira e nua para si
Já era a guarda do universo
Cresceu com os outros grãos.
Já havia aprendido
a germinar uma relação
a se encontrar no silêncio
a transformar na calma
a abrigar os infinitos gemidos
do amor
sem nunca perguntá-lo.
Era ela
Pedaço de mundo
Mulher inteira
Agora com olhar mais certo
fincado nos sonhos
ardente buscadora de si
Andava com um passo
talvez mais leve
um pouco mais certo
mais firme
Em suas mãos tinha a certeza
de poder acalentar o mundo
de ver com os dedos
o que a alma esconde dos olhos
De poder tocar os medos
De poder acariciar os dons.
Mulher inteira
disse dela mesma
E seguiu
(ainda havia muito a fazer).
Mas com uma beleza
delicadamente farta
que só cabe
a uma vida mulher.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
H
Homens.
Homens de mão grande
De caber o mundo
Mãos abertas,
Como a segurar o ar
Homens de peito
Atravessando o espaço
Como quem rompe o mundo
Com força, com avidez
[é preciso ter cuidado com o atropelar das rotinas
Homens de mão grande coçam a cabeça
Porque lhe cabem pensamentos demais
Homens andam de um lado
Para o outro
como uma Grande Cruzada
na sua sala de jantar.
Homens de mão grande
Franzem a testa
Apertam os olhos
E fazem silêncios imensos
Em seus planos de batalhar
De conquistar o invento, o tempo,
o trunfo, o programa da tv.
Homens franzem a testa
Quando só querem carinho
E derrubam seus corpos imensos
Ao nosso lado
Homens não falam
Homens andam
Homens braços
Com seus reservátorios de amor
Somente visitados por nós
[ nos horários em que os portões se abrem
Homens com seus exageros
De robustos sonhos
De encorpadas vozes
De tantas vidas
Em uma vida homem
[suspiramos
Quase sem ver
o tilintar das xícaras
e a rouquidão da manhã.
Homens dormem homens acordam
Barulhentos e idos
Sob o nosso olhar
delicadamente atento.
terça-feira, 17 de agosto de 2010
apelo
De repente um feixe de luz entrou com todo peito, encorpado e cheio, como alguém que invade a sala gritando. Aproveitou os seus segundos e cuspiu com uma força tremenda. Era um raio dourado e lambeu de cor o cabelo da moça, que apenas digitava em seu computador mais letras repetidas. O raio fez como um tapete, abriu caminho esperando que alguém se levantasse, que percebesse, que se erguesse da vida e corresse para o mundo afora. Mas a porta foi fechando, o raio foi diminuindo, secando, como um último suspiro. Porque tinha entrado, coitado, pela brecha que encontrou: a porta do elevador.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
O que movimenta meu amor.
O que movimenta meu amor é até o tiquinho de movimento: aquele olhinho apertado abrindo e vendo que o outro está ali na cama. Aquele segundo-infinito, enquanto sua cabeça encontra um peito-travesseiro: ele distraído com o tagarelar da televisão e eu fechadinha em flor, encolhida naquele mundo de amor particular. O que movimenta nós dois é a bossa, é até o friozinho da manhã de domingo. É a meia arrastando pela casa em direção à invenção do almoço na cozinha. É o riso, totalmente nosso, tão sincero quanto ligeiro. É o som do violão na cama, enquanto ele canta e recanta as histórias, e eu me embolo em lembranças e lençóis. É o abraço que quanto mais aperta, mais pede pra ser apertado, até que alguém enjoe e reivindique um espacinho. É o ritmo apressado dele, é a perguntação dela, são as tecnologias dele, as filosofias dela… Que no final do dia, que no passar dos anos, sempre se encontram no encontro entre os dedos, nas mãos balançando…. em pleno movimento.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
branco banco
Aquele banquinho encostado guardava uma centena de tardes com gosto de conversas boas. Ele era inteiro branco, por isso o próprio tempo gostava de se assentar ali. E quando a gente sentava, era como se descolasse da vida e já se tornasse bem velhinho, em apenas quatorze segundos. E então para nós o gostoso se tornava ver a vida dos outros passar, com seus cachorros de mão, com suas preguiças de expediente, seus sapatos chutando vento, suas fabricações de família. E de repente a nossa própria vida passa então mansa pela calçada, acompanhada pelo nosso olhar, como um suspiro longo e grato... Uma breve pausa para o alívio de viver - que fica ainda melhor com o friozinho da tarde. É o minuto em que os sonhos param um pouco de pedir e as pernas de correr. Levantamos. Recuperamos então nossas dores nas costas, nosso dia pelo meio, nossas obrigações civis e as mãos nos bolsos. Talvez até a própria idade, uns dez passos depois. E seguimos, escrevendo a própria história, em passos um pouco mais lentos, em linhas um pouco mais longas.
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Verbo novo
Eu fundei um verbo novo: Terquê. E mal se caminha no mundo, o verbo começa a se conjugar sozinho. E você já vai terquê gostar. E você já vai terquê se abrir. E terquê amar a azulância das coisas. E terquê tapar os buracos. E o terquê agora, que é o mais bruto de todos. Que engraçado isso. Quem me prometeu o mundo? Quem me disse que haveria outra imensidão igual a mim? Quem não me ensinou que não existe nada no mundo igual e que tudo que existe é pura diferença. (E que há tanta beleza nisso). Agora tenhoquê. Observar, Aprender essa lingua mole que a vida fala. Aprender a falta de acordos e contratos com o outro. Aprender a não querer tanto o mesmo abraço, o mesmo riso, o mesmo encontro, o mesmo modo viveris, mesmo quando ele é tão bom. É muito Bom ter pensamentos parecidos. Mas o mundo nunca soube o que é terquê. Terquê não foi inventado pela natureza. Terquê não existe na gente, porque até a gente prefere escolher a cada dia e renegociar o que quer no pós-dia. A a gente só aceita terquê quando a causa é muito grande. Terquê fazer o exame. De resto a vida não é. Não vai. Não está feita. E nessa malemolência, esse apenas fluido do mundo, vamos nos deixando conhecer mutantes. Falantes, Inventantes de nós. Vamos conhecendo vontades. Verdades. Imprevistos que constroem. Vamos conhecendo o inaceitável, o incalculável, o susto: o outro vivendo. Com o modo dele, seus motivos alheios. Tão espacado desse verbo. A vida é desse não garantido imenso. E não nos faz maiores pedidos, mesmo que sua agenda e o seu trabalho lhe digam o contrário. Conjugue o verbo certo. A vida só pede pra ser.
Mas essas minhas linhas vão para as sinceras. A admiração discreta, entre ombros, mãos, papéis, boca torta. Porque por trás do Sim e Não altivos, que andam pela sala com os peitos inflados e um chapéu robusto, existe o parar pra assistir. Parar pra ver o outro ser, existir. A vida seria mais gostosa se a gente parasse para ver. Sentasse na frente de alguém, que já viveu um bocado, que já sabe um bocado ou que não sabe nada direito mas vive como ninguém, só para silenciar. Minha gente, a vida é um espetáculo. Inclusive a vida do outro, inteira como ela é. Ache você que não concorda. Ache você ruim o seu modo ou que é falível. Mas como um filme, que todo mundo viu, pare pra assistir. Sem apego, sem sentimento, sem ser você por um instante. Exerça o direito à curiosidade, ao novo. De algum modo, você também vai ter vontade de aplaudir. E de entrar, nem que seja um pouquinho, naquela secundagem, naquele monte de rugas na pele contando um monte de vidas em uma só. Mas quando você entrar será breve. E discreto. E transparente como um penado. Porque enfim terá descoberto o valor do respeito.
quinta-feira, 29 de julho de 2010
Horóscopo
A verdade é que meu horóscopo nunca vai chegar perto de adivinhar o que aconteceu ontem a noite. Nem será capaz de me dar conselho algum, visto que não toma um bom vinho comigo. Ele pode até conhecer do passar dos astros. Mas do passar das horas, das histórias costuradinhas no tempo e desamarradas no dia, entendo eu. É certo que não é muito fácil interpretar minhas estações. (Mas crescer é também isso: ter paciência com os próprios mistérios. Viver apesar do calo, apesar da dúvida, apesar do momento. )De forma que fiquem os planetas com suas conjunções e conjugações. Com seus futuros e suas explicações para o que nunca precisou de uma. E aqui, onde se pode ser mais do que um asteróide, nós vamos fazendo a vida andar.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
pedido
Meu bem não desperdice
Amor feito gotejo de vela
Carinho escapulido
Tanta palavra bem feita, bem decorada
Espantada pela porta
Meu bem é cedo
Meu bem é junho
É tempo que tudo caminha
Deixe correr os zumbidos
Os pedidos no pé do ouvido
Meu bem, quem precisa saber?
O que a noite nos diz
No embaraçado dos braços
É o que tem de ser
terça-feira, 20 de julho de 2010
eles eu
Para os de sempre, conversa velha, cheiro de travesseiro, ronco no ouvido, camisa de bloco de carnaval dentro de casa. Para os de muito – muita risada, abraços repetidos, muito molho no cachorro quente e muita pressa de viver. Para os de agora – felizes, bonitos, no ineditismo, nas portas abertas. Para os de fazer presepada no almoço. Para os de buteco. Os de camarão com pão. Para os que sempre estão lá, com as palavras enfileiradas, com os ombros mansos. Para os que conheci ontem. Para os que nunca paro de conhecer.
Amo vocês. É esse infinito que vem dos amigos que me faz completa.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Ares frescos
Azul derramado no teto da vida
Entre tantas histórias e caracóis do tempo,
Acende sol dentro de nós.
Presente da vida, amigas encontradas
Sorrindo dias comuns, irradiando gente
Há um cheiro de mar presente
- Mesmo que distante
(preso nos cabelos, bagunçando idéias)
Talvez por ser brisa fresca
Essas nossas tardes juntas
Sopro para alma, em qualquer ocasião.
Enquanto não vejo a praia
Me encho do sal da alegria
Em conversas esvoaçadas,
indo e voltando
todos os dias.
segunda-feira, 14 de junho de 2010
Passeado
Amor então era aquilo
Um transpassado de mãos
Uma corrente delgada e escorregadia de carinhos
Uma vizinhança de janelas abertas
O caminho de pesponto que faz um passarinho
De um em um
De tela em tela
Canto a canto
Amor então era isso
O que vai e vem entre os olhos
O que passa e se espalha ao sabor do vento
Amor é polen
É experimento
Linguagem danada de tagarela
Que fala sem ninguem ver
É coisa de dar alma cheia
Amor passeia
Passageiro no tempo
Amor é o abraço dado
De incontaveis mundos.
Dia Claro
Porque era uma segunda diferente
Branca, aberta
Feito boca de janela
Era uma segunda dizente de sim
De toda alegria infame
Que cabe entre mãos e pontas de dedos
Era o meu mundo amanhecendo numa segunda
Me convidando para um sorriso solto
Para um destino leve
Era braço aberto de mundo
Era peito aberto janela
Era ela
Era ela
Gostando mais
Da vida dela.
segunda-feira, 7 de junho de 2010
A linguagem por debaixo dos lençóis
De repente, quente. Tecido macio diferente, cobrindo tudo como nunca pensou um fio de algodão. E debaixo de montanhas, de listras, pespontos, felpos, mãos. Encontro entre os dedos, saudosos, depois de tanta noite, tanta procura. Esquecidos lá embaixo, se falam: pés. Avisam consideravelmente que naquele silêncio todo estão ali, um para o outro. Caprichos de sonhos, isolados, agitados, e no entanto: encosto. Um mundo de amor se recosta suavemente sobre sua pele descoberta. Segue sono. Segue noite. Turva. Contínua. INFINITA. Corpos em tempos, espaços distintos, e o abraço dado num bafo de respiração. Mas de repente, no meio das horas, em um cisco de realidade, um estalo de suspiro, novamente eles, em pontas de dedos, em olhos fechados: mãos.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Tempo relativo
Em uma coisa eu sinto pela nova geração. Vai demorar um pouco para eles entenderem o que é a Espera. Com essa agitada vida, cheias de respostas instantâneas, no msn, no facebook, no blog, no google, vira uma realidade muito distante essa coisa de aprender a escutar o tempo da vida. E a caminhar no seu ritmo. As coisas não acontecem tão rápido quanto chega um email. Os sentimentos não se transformam tão rápido quanto se atualiza uma home page. A vida tem seu ritmo e é preciso tanto saber escutá-la para viver em paz, para sobreviver. Quero que meus filhos e também meus netos descubram que a espera existe. E descubram o valor de ter paciência, serenidade, calma e confiança em todo tempo que viverem. É preciso saber se manter em pé e tranquilo, por um dia, por esse dia. Assim como é preciso entender que um tempo difícil leva o tempo que é necessário, e não é contado em horas, nem dias. Mas todos eles se concluem no momento certo, e cabe a nós estarmos prontos, internamente, para tirarmos o melhor, para vivermos com o melhor dos sentimentos. As melhores e mais duradouras coisas da vida são feitas com a paciência com que é tecida uma teia de aranha, eu penso. Quero que meus filhos , assim como eu, tenham a calma que é preciso para escutar e para receber o amor, assim como ele é. Para errar e aprender, sem se cobrar com a pressa, mas sendo amigo da observação. Quero a serenidade que é preciso para descobrir como a vida conserta as coisas, como tudo pode se transformar. Quero que tenham felicidade para levar à frente os seus sonhos e confiança silenciosa na hora da dor. Precisamos escolher os sentimentos que nos acompanham para cada situação, é como decidimos viver. Mas de tudo isso, o mais importante: entender que as emoções aflitas desse momento de nada tem a ver com a sábia e aveludada voz da vida. Muito mais o íntimo do espírito, se não tiver sendo pertubardo pelas janelas do ichat ou do msn, que vai ouvir e entender o que está sendo pedido. É preciso descobrir, nessa geração tão agitada, que tempo verdadeiro tem a vida e a voz da divindade em cada um de nós.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Um pouquinho de humanidade no dia a dia
Somos treinados para a linha de batalha. Somos. Estamos todo o tempo empenhados, dedicados, forticados para o que vier. É fato.
Mas nessa luta diária, nessa corrida pelos objetivos que atropela as horas, esquecemos das sutilezas que fazem o nosso dia um pouco mais HUMANO.
Correr para cumprir as metas é importante. Mas parar um minuto para dar um abraço, para conversar com calma, não faz tanta diferença na agenda. Mas faz para a alma.
Queremos sempre resultados, resultados, resultados. Mas de que adianta o esforço, se quando tudo dá certo não sabemos sorrir, comemorar? Não nos damos o direito de respirar em paz, de abrir as janelas do peito. Sabemos ser bons profissionais. Mas sabemos ser gente?
São essas pequenas coisas que permeiam o nosso dia, que fazem a vida deixar de ser um CRONOGRAMA para ser de verdade. Com sentimento de verdade. Com amor de verdade. Vale deixar o relógio atrasar um dia sim. Vale roubar no jogo, jogar os papéis para o alto de vez em quando.
Sem isso, a vida fica vazia. Fica tão inspiradora quanto uma pauta de escritório.
Vamos lembrar de ser mais humanos. Por trás de qualquer resultado, tem o sonho, tem o suor de alguém. Por trás da carinha cansada atravessando a porta, tem sempre alguém cheio de amor, cheio de vida para dividir. E com uma vontade de fazer um dia seguinte simplesmente mais feliz.
quinta-feira, 29 de abril de 2010
Oceano de mim
É, eu não sou daqui.
Eu sou do mar
Meu verbo é derramar
Até encobertar os grãos secos
de vida pouca, de pouco amor
Eu tenho o tamanho do abraço
Da linha azul no horizonte
É verdade, sou mansa
(como o sonho bom)
De envolver você em um balanço morno
Mas também sou tanta
Tenho o incalculável mistério do mar
Desenhada no brilho da beira
E com muita história além da superfície
Sou um convite, sou água
Queira beber, por favor
Se contém o sal,
não é para secar a garganta
Mas para encher de vida
Os cantos onde o azul se arrasta
Sim, seu moço, posso não ser certa
- qual é a agua que é acomodada?
E meu ruído horas incomoda.
Mas qual a onda que se traduz calada?
Até quando a brisa é mansa
Ouve-se o canto da boca encharcada
Do alto de uma sacada…
Venha quem quiser sentir
Pule quem quiser provar!
Tenho o número de encantos
Salgado, molhado, imenso, espalhado
Que alcança o mar!
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Conjugando Sol
Sol não é do verbo ter
Não tem sol lá fora da janela de pátina.
Nem do verbo abrir.
Abriu demasiado sol enquanto eu dormi.
Sol é do verbo ser
É sol.
Sou sol.
Porque sol acontece
Como acontece a mudança dentro da alma
Impregnando todos os lugares
Onde haja ou não haja teto
Invadindo peitos, pensamentos, pedidos e mãos dadas
Ninguém tem sol de meio-dia
Todo mundo é sol
Como é gente, como é graça
Como somos do tamanho exato do céu
No nosso bafo quente de alegria
Misturados ao ar
Na grandeza do que sentimos.
Sol não se acha na seca rosa dos ventos
Sol não acordou na direção leste
Ou se despediu na oeste, querendo ir pro sul
Lugar de sol nascer é na alma
E é lá que se conjuga o verbo ser
Nem transitivo, nem transitando
Simplesmente transformando
Essa nossa vontade de iluminar,
de aquecer, de abrir
Quando, coincidentemente,
nos acontece a luz.
quinta-feira, 8 de abril de 2010
o bonito do que vi
Quando eu estou passando por um momento delicado, costumo ouvir a opinião de muita gente. E o mais enriquecedor até o momento é ver como as pessoas vivem verdades diferentes. Como encontraram soluções próprias para lidarem com suas dores e dificuldades, das quais a vida não poupou ninguém. Há quem acredite nos sonhos, nos desejos mais utópicos do coração, e quem só acredite na vontade, nesta exata hora do dia, com olhos escancarados. Há os crentes e também os descrentes, chegando a me impressionar com suas razões. Há os que ensinam a serenidade, e nesses me apego, tentando pela primeira vez, ser uma pessoa melhor, da qual me orgulhe na vida. A calma que eles transmitem é quase uma confiança, uma nuvem que nos envolve no passar dos dias. E tem os que me ensinam a felicidade. Nunca me esqueço da frase: “permita-se o sofrimento, que é mesmo para ser vivivo. Mas não deixe que nada, nem ninguem, atrapalhe sua busca pela felicidade”.
-Paro por um Segundo para pensar: o que será que eu ensino a eles? Do que será que fala minha alma, com os atos, com o olhar?
É bom, nesse tempo delicado, descobrir do que as pessoas são feitas. Cada uma delas. O segredo que sustenta o seu sorriso, que muitas vezes foi constrúido com lágrimas, o seu jeito misterioso, a sua ignorância no que nem sabe que lhe falta, as suas receitas para o viver desse momento. Como é especial entrar nesse universo tão guardado por cada um. Me sinto privilegiada pelos corredores e portinhas que encontrei abertos.
Algumas vezes me assustei, muitas me surpreendi, mas pude ver como são diferentes as realidades. Como a vida para cada um é única, embora todos tenham o mesmo amor e vontade de lhe ajudar a vivê-la. Gosto de ver as pessoas doando suas receitas, me faz perto. De todas as coisas, essa foi a mais rica para mim, até este dia: descobrir como a verdade não tem dono. E se faz nova na alma de cada um.
segunda-feira, 5 de abril de 2010
bahia
É alguma coisa que não tem nome não. Porque nem juntando outras coisas de nome parecido se consegue explicar. Já tentamo alegria. Já tentamo toda invenção. É alguma coisa que se sente, quando você encosta na beira do muro de pedra e enche os dedos de sal. É alguma coisa que se escuta, mesmo andando distraído naquele burburinho de tardes, tabuleiro e barraca. É alguma coisa que se prende nos olhos, entre o estampado azul e a rajada dourada, bem na curva do farol. É um embaraçado de palavras que deixa qualquer um tonto, cansado da procura. Mas todo mundo sabe que tem. É como chegar numa loja e abrir o sorriso. Mas não saber o nome do produto. É como dar um presente e a pessoa adorar receber. Mas não saber contar a ninguém o que foi que ganhou. E é tão presente, é tão forte, quase como uma pessoa que caminha do seu lado. Você sabe que tá ali. Entre o cheiro forte amarelado do rio avermelhado. Na conversa frouxa da morena com suas mãos nos dedos dela. No o dia que insiste, não tem pressa nenhuma de acabar, chegando a ser desajustado do mundo. É o quebrar da onda, mas é o abraço todo doado, que também se prende a você a qualquer canto que vá. É o qualquer coisa que enche os olhos. Que dá uma vontade danada de fincar os pés por baixo da areia e pedir pra ficar. É essa coisa danada que não tem nome de nada que faz a Bahia. E a gente fica curioso, tentando explicar. Mas eu já disse que coisa sem nome é da natureza do amor. É pra viver, não pra falar. Pra ver se assim não acontece de ninguém se atrapalhar.
quarta-feira, 31 de março de 2010
Decido ser
quinta-feira, 18 de março de 2010
entre nós
Do que mais me orgulho não é o que apareceu na notinha. Nem do trocado que ganhei. Gostei das cores, claro. Gostei do que vi, entre tetos, das zuadas, risadas, do verde do litoral e do azul espelhado refletindo essa gente nos prédios. Mas é mais. Quando um lugar é novo para você, você é nova para o lugar. E ele vai senti-la, cheirá-la, esperar até que você queira ser. E do que vivi, o que mais me me deixa feliz é isso: o que construí em gente.
Me alegra em alguns dias, que a vida não tem o menor interesse em contar, ter feito sentimento aparecer em corações distraídos, inéditos, desavisados como o meu. Me alegra ter rido gente. Ter trazido para perto.Ter deixado gente bonita nascer em mim.
Me alegra saber que conquistei cumplicidade. Que algumas pessoas estão com a minha causa, com o meu sorriso, até com as minhas dores. Me anima saber que já não sou mais uma, sou mais, a cada centímetro que percorro, a cada metro que permito amor. Somos o que alcança o outro.
Me deixa orgulhosa descobrir que posso fazer amigos. E do verbo fazer, considerando o tempo com que se faz qualquer coisa: um pão, uma hora, um destino. Devagar, com cuidado, vezes com entusiasmo, vezes com espera silenciosa. Mas sempre, com uma gratuidade plena. Sempre com a verdade das afinidades que não precisam de razão. Tudo tão dado que chega a ser como prêmio o que me dão em troca: vida. Carinho. Abraço.
Me alegra saber que sou capaz de construir amor em lugares que nunca me viveram. E saber que já vivem em mim pessoas de rostos novos.
Agradeço ao acaso e ao caso desse coração querer se abrir.
A todas as pessoas: Gratuitas. Bonitas. Comigo. Caminho.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Nasceu o meu siso
Nasceram, nasceram
Com força, sem pressa
Certeiro, primeiro
Nasceu o meu siso abrindo o caminho
Era eu
Era a pele
Era o novo destino
Era pele de nova eu toda certeira
Era nova eu pele abrindo a porteira
Era gente, era tempo
Era bom de nascer
Sou bem vinda, bem vida
De longe se vê
De sonho e saliva
Vermelha gengiva
De querer crescer
E crescemos nós,
No saber, no saber.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
só um pensamento.
Amadurecer me ensinou a esperar
A ter a calma dos mais antigos
Num sorriso de novo
Amadurecer é não se alarmar, não gritar
Encostar os lábios diante da força dos ventos
E mantê-los assim.
É descobrir que tudo pode sacodir lá fora
Mas aqui dentro silêncio, preservação.
E a fina esperança que nos diz que tudo podemos.
Amadurecer não é envelhecer no tempo
é aprender a senti-lo dentro de nós.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010
verdeazul
É tão sol
E meu coração em mergulhados
De verde azul, verde azul
É tão abraçado branco
Esse céu
E tão espaçoso o riso em mim
Que abrigo passarinzisses todas
Há tantos suspiros e pulos, suspiros e pulos
Anúncios de verão
E eu quero uma corda solta, frouxa
diversidade de palavras na língua
Para dar férias a sílabas
Para deixar a alma se encarregar
De rolar na areia até virar onda
Mole, gostosa, mole…
E que ventorino é esse
Que balança meus fios carinho
Feito barulho de cadeira de vó
Feito enlace de dedos sabor baunilha
Poxa, nesse verão..
Eu também quero me pôr!
Em amarelo e laranja
Às cinco da tarde,
Pestanejando de brilho a areia.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
entupido
Todo mundo traz uma aflição dentro do peito
- sem número, nem metro, nem tipo
e hoje, nesse dia cor de negro
Esse menino embrulhado de passado
quer vir à tona, cheio de saliva e de sangue
e de tanto empurrar o meu peito
parece que vai me arrancar o hoje
parece que vai me levar junto
em seu desejo de partir
o menino é o dono de minha angústia
Todo mundo tem um pedaço amargo de caminho
que arrasta por entre uma madrugada de dias
sem um motivo que pareça ser real
todo mundo lá no fundo
quer fazer as pazes consigo
quer se pegar no colo por uns minutos
e dizer umas palavrinhas que costumam sarar
na verdade, parece eu tenho um motivo pra chorar
mas um motivo longo
que não seca quando suas lágrimas acabam
e vem aquele ventinho frio do alívio
parece que sempre volta meu motivo
em qualquer cair das seis...
Todo mundo ama sem precedentes
mas alguns choram uma dor fora do hoje
alguns sentem uma angústia de não caber
que não assenta em canto nenhum da garganta
a minha hoje está pedindo para nascer
como nasce em mim a mulher nova
a minha quer se despedir de mim
e não encontra forma
hora nenhuma, por mais abanar de braços
tentou até escapar por meio
desses fiozinhos de poesia
como se pudesse correr para sempre.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Toda de contas - arte de crescer
Meu deus porque estou atenta
E costuro minha alma feito
Colcha de fuxico, das que cobrem o sofá.
Vou amarrando aqui, enchendo de pontos o outro lado
Vou acertando até que a linha
Esteja pronta, esteja certa
E de tão estirada e estufada em seu vermelho
Seja o caminho macio para os meus passos
Claros
Vou costurando sem pressa, com amor
Sei do que são capazes os bordados do meu sonho
Sei da delicadeza com que arremato a minha alma
Sei do que contam as estampas
Que gentilmente escolhi
Nesse acolchoado da vida
Sou uma tecelã, minuciosamente atenta,
Que algumas horas dá um ponto fora da cruz,
Que por um segundo, fura a ponta do dedo
Mas que devolve os mesmos olhos de amor
E volta as mãos antigas para o tecido,
Como se fosse um carinho levá-lo ao pé da agulha
E vai ficando bonito o desenho
Porque tem o cruzado forte de quem já andou
Aprendendo – e se pode ver
um colorido, desembaraçadamente bonito
Que parece que muda de tom
Cada vez que avanço mais um metro.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Pousado.
E eu olhava amando
Como se amar fizesse risca
E fosse contornando
Com uma gentileza despretensiosa
O tracejado do seu rosto.
E eu olhava amando
Como se amando pudesse cobrir
Em um entapetado de beijos
O que não era visível
Mas que estava amando olhar
Entre um assunto e outro.
E eu escutava amando
Como quem abraça as palavras
mesmo sem ouvir,
Como quem ouve música
De uma língua qualquer,
E se cobre com um som
por ser apenas familiar.
E eu esperava,
Apertando as minhas mãos,
Por um momento em que
O momento ficasse morno
Com uma mão pousada sobre a minha
Como uma eternidade de paz
Pousa sobre uma pessoa.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Agudos
Tem Dor que só sai num abraço
Apertado, apertado
Como se pudesse estourar a angústia
Até escorrer o fiozinho da paz.
Tem silêncio que só acaba com sim.
Tem verdade que só sai com água.
Tem criança que nunca quer ir embora,
Mesmo passado das horas no relógio de ponto.
Tem mudez que faz barulho alto no peito
E não deixa dormir de noite.
Tem saudade que só passa esfregando
Um no outro.
Tem vergonha que só passa se olhando
Tem medo que é tão forte
Que veste roupa de realidade
E a gente já não sabe quem é quem.
Tem a solidão que isola
e a que se enrosca nas pernas do outro.
O que não tem fim
é esse vazio
Que cabe tanto,
Que cabe tudo
De letrinhas calejadas de amor
A sentenças de alguma paz,
Até o assentar do dia.
*Inspirado na frase de Rodolfo Barreto " Saudade só sai esfregando um no outro"