quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FAZ NOVO

Para você que tem muito amor aí nesse coração, que andou guardando demais ou não. Para você que tem tantos sonhos para tantos anos, que nem sabe como distribuí-los. Para você que tem a alegria estampada na família ou uma família todinha de amigos. Para você que fez tanta gente feliz em 2010, gente sem laço, sem abraço, sem jeito pra pedir ajuda. Para você que precisa de um começo e pra quem só precisa de uma vírgula, porque está no meio da estrada. Para você que acredita, acontece e acredita, escurece e acredita, amanhece e acredita. Um ano novo nosso, branco e farto, e um natal SOL em nossos corações. FELIZ 2011!

domingo, 24 de outubro de 2010

Ele, o amor.



Amor é o que existe de mais legal entre duas pessoas e que existe além até das duas pessoas, vivendo na cama, no caminho para a cozinha, na bagunça da sala, no cheiro da almofada e delicadezas do supermercado. Amor é um bocado. Se morasse na barriga, não caberia na boca de sopro do estômago, nem nos metros enrolados de intestino - o que talvez explique uma segunda locação. Amor parece mais um sorriso em forma de enzima, que espalha e adormece, que espalha e amolece, que espalha e encanta, e ri e junta pele. Amor é um cruzamento de dedos além-idade, anti-relógio, anti-espaço e anti-assento. É um olhar que está no outro, mesmo que pálpebras fechadas meia-noite. Quem tem um amor, na verdade, já é preenchido, como de algo ou outrem, como quem finalmente carrega o sol por dentro da blusa. Ufa! Amor é de fato uma demasia. Mas uma verdade tão de palma, tão de gente, que pele molhado seda ternura quente amor. Amor pousada mão sobre mim. Sorrio amor.

terça-feira, 28 de setembro de 2010



eu decidi
sem muita pompa
conversa ou alarde
assim como quem abre
a janela
desperta no meio da tarde
que viveria esse dia
em soltura e em verso
concentrada em encher o peito
em manter o espírito aberto
Não queria mais das horas
nem do futuro, nem do amanhã
queria meu café de tarde
meu cheiro no pescoço
e cuidar do desgosto do dia
quando me aparecesse o endosso
por enquanto nada mais
já é muito o que a vida traz
quem pensa mais do que sente
vive para si, quase ausente
da fartura do mundo
e eu, ao contrario, distraído,
vivo a parte que me cabe
vivo gozando de estar vivo
chamando esse cansaço gostoso
e essa entrega total
de minha paz primeira
a que leve passeia.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

M


Mulher


Em pé.

Mas em seu olhar

há algo de longo

há algo de seguro

há algo de seu

muito seu

Eis o que havia conquistado

Soube formar-se no próprio ventre

agora era ela

Uma Mulher

Em sua fecundidade

de dons.

Tão plena quanto inteira

os pés nus sobre o tapete

A pele reluzindo com os olhos

Verdadeira e nua para si

Já era a guarda do universo

Cresceu com os outros grãos.

Já havia aprendido

a germinar uma relação

a se encontrar no silêncio

a transformar na calma

a abrigar os infinitos gemidos

do amor

sem nunca perguntá-lo.

Era ela

Pedaço de mundo

Mulher inteira

Agora com olhar mais certo

fincado nos sonhos

ardente buscadora de si

Andava com um passo

talvez mais leve

um pouco mais certo

mais firme

Em suas mãos tinha a certeza

de poder acalentar o mundo

de ver com os dedos

o que a alma esconde dos olhos

De poder tocar os medos

De poder acariciar os dons.

Mulher inteira

disse dela mesma

E seguiu

(ainda havia muito a fazer).

Mas com uma beleza

delicadamente farta

que só cabe

a uma vida mulher.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

H

Homens.

Homens de mão grande

De caber o mundo

Mãos abertas,

Como a segurar o ar

Homens de peito

Atravessando o espaço

Como quem rompe o mundo

Com força, com avidez

[é preciso ter cuidado com o atropelar das rotinas

Homens de mão grande coçam a cabeça

Porque lhe cabem pensamentos demais

Homens andam de um lado

Para o outro

como uma Grande Cruzada

na sua sala de jantar.

Homens de mão grande

Franzem a testa

Apertam os olhos

E fazem silêncios imensos

Em seus planos de batalhar

De conquistar o invento, o tempo,

o trunfo, o programa da tv.

Homens franzem a testa

Quando só querem carinho

E derrubam seus corpos imensos

Ao nosso lado

Homens não falam

Homens andam

Homens braços

Com seus reservátorios de amor

Somente visitados por nós

[ nos horários em que os portões se abrem

Homens com seus exageros

De robustos sonhos

De encorpadas vozes

De tantas vidas

Em uma vida homem

[suspiramos

Quase sem ver

o tilintar das xícaras

e a rouquidão da manhã.

Homens dormem homens acordam

Barulhentos e idos

Sob o nosso olhar

delicadamente atento.

Um sorriso de uma médica que entra na sala atrasada. Um raio de luz nas suas costas na hora de abrir o carro. O convite para entrar na sala que você queria. O discurso que te distrai. A alegria de quem nem te conhece direito. Quando você precisa, a vida te abraça de muitas formas.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

apelo

De repente um feixe de luz entrou com todo peito, encorpado e cheio, como alguém que invade a sala gritando. Aproveitou os seus segundos e cuspiu com uma força tremenda. Era um raio dourado e lambeu de cor o cabelo da moça, que apenas digitava em seu computador mais letras repetidas. O raio fez como um tapete, abriu caminho esperando que alguém se levantasse, que percebesse, que se erguesse da vida e corresse para o mundo afora. Mas a porta foi fechando, o raio foi diminuindo, secando, como um último suspiro. Porque tinha entrado, coitado, pela brecha que encontrou: a porta do elevador.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O que movimenta meu amor.

O que movimenta meu amor é até o tiquinho de movimento: aquele olhinho apertado abrindo e vendo que o outro está ali na cama. Aquele segundo-infinito, enquanto sua cabeça encontra um peito-travesseiro: ele distraído com o tagarelar da televisão e eu fechadinha em flor, encolhida naquele mundo de amor particular. O que movimenta nós dois é a bossa, é até o friozinho da manhã de domingo. É a meia arrastando pela casa em direção à invenção do almoço na cozinha. É o riso, totalmente nosso, tão sincero quanto ligeiro. É o som do violão na cama, enquanto ele canta e recanta as histórias, e eu me embolo em lembranças e lençóis. É o abraço que quanto mais aperta, mais pede pra ser apertado, até que alguém enjoe e reivindique um espacinho. É o ritmo apressado dele, é a perguntação dela, são as tecnologias dele, as filosofias dela… Que no final do dia, que no passar dos anos, sempre se encontram no encontro entre os dedos, nas mãos balançando…. em pleno movimento.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

branco banco

Aquele banquinho encostado guardava uma centena de tardes com gosto de conversas boas. Ele era inteiro branco, por isso o próprio tempo gostava de se assentar ali. E quando a gente sentava, era como se descolasse da vida e já se tornasse bem velhinho, em apenas quatorze segundos. E então para nós o gostoso se tornava ver a vida dos outros passar, com seus cachorros de mão, com suas preguiças de expediente, seus sapatos chutando vento, suas fabricações de família. E de repente a nossa própria vida passa então mansa pela calçada, acompanhada pelo nosso olhar, como um suspiro longo e grato... Uma breve pausa para o alívio de viver - que fica ainda melhor com o friozinho da tarde. É o minuto em que os sonhos param um pouco de pedir e as pernas de correr. Levantamos. Recuperamos então nossas dores nas costas, nosso dia pelo meio, nossas obrigações civis e as mãos nos bolsos. Talvez até a própria idade, uns dez passos depois. E seguimos, escrevendo a própria história, em passos um pouco mais lentos, em linhas um pouco mais longas.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Verbo novo

Eu fundei um verbo novo: Terquê. E mal se caminha no mundo, o verbo começa a se conjugar sozinho. E você já vai terquê gostar. E você já vai terquê se abrir. E terquê amar a azulância das coisas. E terquê tapar os buracos. E o terquê agora, que é o mais bruto de todos. Que engraçado isso. Quem me prometeu o mundo? Quem me disse que haveria outra imensidão igual a mim? Quem não me ensinou que não existe nada no mundo igual e que tudo que existe é pura diferença. (E que há tanta beleza nisso). Agora tenhoquê. Observar, Aprender essa lingua mole que a vida fala. Aprender a falta de acordos e contratos com o outro. Aprender a não querer tanto o mesmo abraço, o mesmo riso, o mesmo encontro, o mesmo modo viveris, mesmo quando ele é tão bom. É muito Bom ter pensamentos parecidos. Mas o mundo nunca soube o que é terquê. Terquê não foi inventado pela natureza. Terquê não existe na gente, porque até a gente prefere escolher a cada dia e renegociar o que quer no pós-dia. A a gente só aceita terquê quando a causa é muito grande. Terquê fazer o exame. De resto a vida não é. Não vai. Não está feita. E nessa malemolência, esse apenas fluido do mundo, vamos nos deixando conhecer mutantes. Falantes, Inventantes de nós. Vamos conhecendo vontades. Verdades. Imprevistos que constroem. Vamos conhecendo o inaceitável, o incalculável, o susto: o outro vivendo. Com o modo dele, seus motivos alheios. Tão espacado desse verbo. A vida é desse não garantido imenso. E não nos faz maiores pedidos, mesmo que sua agenda e o seu trabalho lhe digam o contrário. Conjugue o verbo certo. A vida só pede pra ser.

Mas essas minhas linhas vão para as sinceras. A admiração discreta, entre ombros, mãos, papéis, boca torta. Porque por trás do Sim e Não altivos, que andam pela sala com os peitos inflados e um chapéu robusto, existe o parar pra assistir. Parar pra ver o outro ser, existir. A vida seria mais gostosa se a gente parasse para ver. Sentasse na frente de alguém, que já viveu um bocado, que já sabe um bocado ou que não sabe nada direito mas vive como ninguém, só para silenciar. Minha gente, a vida é um espetáculo. Inclusive a vida do outro, inteira como ela é. Ache você que não concorda. Ache você ruim o seu modo ou que é falível. Mas como um filme, que todo mundo viu, pare pra assistir. Sem apego, sem sentimento, sem ser você por um instante. Exerça o direito à curiosidade, ao novo. De algum modo, você também vai ter vontade de aplaudir. E de entrar, nem que seja um pouquinho, naquela secundagem, naquele monte de rugas na pele contando um monte de vidas em uma só. Mas quando você entrar será breve. E discreto. E transparente como um penado. Porque enfim terá descoberto o valor do respeito.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Horóscopo

A verdade é que meu horóscopo nunca vai chegar perto de adivinhar o que aconteceu ontem a noite. Nem será capaz de me dar conselho algum, visto que não toma um bom vinho comigo. Ele pode até conhecer do passar dos astros. Mas do passar das horas, das histórias costuradinhas no tempo e desamarradas no dia, entendo eu. É certo que não é muito fácil interpretar minhas estações. (Mas crescer é também isso: ter paciência com os próprios mistérios. Viver apesar do calo, apesar da dúvida, apesar do momento. )De forma que fiquem os planetas com suas conjunções e conjugações. Com seus futuros e suas explicações para o que nunca precisou de uma. E aqui, onde se pode ser mais do que um asteróide, nós vamos fazendo a vida andar.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

pedido

Meu bem não desperdice

Amor feito gotejo de vela

Carinho escapulido

Tanta palavra bem feita, bem decorada

Espantada pela porta

Meu bem é cedo

Meu bem é junho

É tempo que tudo caminha

Deixe correr os zumbidos

Os pedidos no pé do ouvido

Meu bem, quem precisa saber?

O que a noite nos diz

No embaraçado dos braços

É o que tem de ser

terça-feira, 20 de julho de 2010

eles eu

Para os de sempre, conversa velha, cheiro de travesseiro, ronco no ouvido, camisa de bloco de carnaval dentro de casa. Para os de muito – muita risada, abraços repetidos, muito molho no cachorro quente e muita pressa de viver. Para os de agora – felizes, bonitos, no ineditismo, nas portas abertas. Para os de fazer presepada no almoço. Para os de buteco. Os de camarão com pão. Para os que sempre estão lá, com as palavras enfileiradas, com os ombros mansos. Para os que conheci ontem. Para os que nunca paro de conhecer.

Amo vocês. É esse infinito que vem dos amigos que me faz completa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ares frescos

Azul derramado no teto da vida

Entre tantas histórias e caracóis do tempo,

Acende sol dentro de nós.

Presente da vida, amigas encontradas

Sorrindo dias comuns, irradiando gente

Há um cheiro de mar presente

- Mesmo que distante

(preso nos cabelos, bagunçando idéias)

Talvez por ser brisa fresca

Essas nossas tardes juntas

Sopro para alma, em qualquer ocasião.

Enquanto não vejo a praia

Me encho do sal da alegria

Em conversas esvoaçadas,

indo e voltando

todos os dias.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Passeado

Amor então era aquilo

Um transpassado de mãos

Uma corrente delgada e escorregadia de carinhos

Uma vizinhança de janelas abertas

O caminho de pesponto que faz um passarinho

De um em um

De tela em tela

Canto a canto

Amor então era isso

O que vai e vem entre os olhos

O que passa e se espalha ao sabor do vento

Amor é polen

É experimento

Linguagem danada de tagarela

Que fala sem ninguem ver

É coisa de dar alma cheia

Amor passeia

Passageiro no tempo

Amor é o abraço dado

De incontaveis mundos.

Dia Claro

Porque era uma segunda diferente

Branca, aberta

Feito boca de janela

Era uma segunda dizente de sim

De toda alegria infame

Que cabe entre mãos e pontas de dedos

Era o meu mundo amanhecendo numa segunda

Me convidando para um sorriso solto

Para um destino leve

Era braço aberto de mundo

Era peito aberto janela

Era ela

Era ela

Gostando mais

Da vida dela.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A linguagem por debaixo dos lençóis

De repente, quente. Tecido macio diferente, cobrindo tudo como nunca pensou um fio de algodão. E debaixo de montanhas, de listras, pespontos, felpos, mãos. Encontro entre os dedos, saudosos, depois de tanta noite, tanta procura. Esquecidos lá embaixo, se falam: pés. Avisam consideravelmente que naquele silêncio todo estão ali, um para o outro. Caprichos de sonhos, isolados, agitados, e no entanto: encosto. Um mundo de amor se recosta suavemente sobre sua pele descoberta. Segue sono. Segue noite. Turva. Contínua. INFINITA. Corpos em tempos, espaços distintos, e o abraço dado num bafo de respiração. Mas de repente, no meio das horas, em um cisco de realidade, um estalo de suspiro, novamente eles, em pontas de dedos, em olhos fechados: mãos.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Deus me fez
ou numa roda de samba
ou num punhado de areia
ou num vento de desatar cabelo
Ou numa sexta-feira
Deus me fez na graça da paz
ou debaixo de um chapéu de palha
ou num abraço de gente
ou com cheiro da praia
Sei que em tudo isso me encontro
e em meio mundo me deito
procuro ainda meu canto
E Deus já me fez de outro jeito.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Tempo relativo


Em uma coisa eu sinto pela nova geração. Vai demorar um pouco para eles entenderem o que é a Espera. Com essa agitada vida, cheias de respostas instantâneas, no msn, no facebook, no blog, no google, vira uma realidade muito distante essa coisa de aprender a escutar o tempo da vida. E a caminhar no seu ritmo. As coisas não acontecem tão rápido quanto chega um email. Os sentimentos não se transformam tão rápido quanto se atualiza uma home page. A vida tem seu ritmo e é preciso tanto saber escutá-la para viver em paz, para sobreviver. Quero que meus filhos e também meus netos descubram que a espera existe. E descubram o valor de ter paciência, serenidade, calma e confiança em todo tempo que viverem. É preciso saber se manter em pé e tranquilo, por um dia, por esse dia. Assim como é preciso entender que um tempo difícil leva o tempo que é necessário, e não é contado em horas, nem dias. Mas todos eles se concluem no momento certo, e cabe a nós estarmos prontos, internamente, para tirarmos o melhor, para vivermos com o melhor dos sentimentos. As melhores e mais duradouras coisas da vida são feitas com a paciência com que é tecida uma teia de aranha, eu penso. Quero que meus filhos , assim como eu, tenham a calma que é preciso para escutar e para receber o amor, assim como ele é. Para errar e aprender, sem se cobrar com a pressa, mas sendo amigo da observação. Quero a serenidade que é preciso para descobrir como a vida conserta as coisas, como tudo pode se transformar. Quero que tenham felicidade para levar à frente os seus sonhos e confiança silenciosa na hora da dor. Precisamos escolher os sentimentos que nos acompanham para cada situação, é como decidimos viver. Mas de tudo isso, o mais importante: entender que as emoções aflitas desse momento de nada tem a ver com a sábia e aveludada voz da vida. Muito mais o íntimo do espírito, se não tiver sendo pertubardo pelas janelas do ichat ou do msn, que vai ouvir e entender o que está sendo pedido. É preciso descobrir, nessa geração tão agitada, que tempo verdadeiro tem a vida e a voz da divindade em cada um de nós.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Um pouquinho de humanidade no dia a dia

Somos treinados para a linha de batalha. Somos. Estamos todo o tempo empenhados, dedicados, forticados para o que vier. É fato.

Mas nessa luta diária, nessa corrida pelos objetivos que atropela as horas, esquecemos das sutilezas que fazem o nosso dia um pouco mais HUMANO.

Correr para cumprir as metas é importante. Mas parar um minuto para dar um abraço, para conversar com calma, não faz tanta diferença na agenda. Mas faz para a alma.

Queremos sempre resultados, resultados, resultados. Mas de que adianta o esforço, se quando tudo dá certo não sabemos sorrir, comemorar? Não nos damos o direito de respirar em paz, de abrir as janelas do peito. Sabemos ser bons profissionais. Mas sabemos ser gente?

São essas pequenas coisas que permeiam o nosso dia, que fazem a vida deixar de ser um CRONOGRAMA para ser de verdade. Com sentimento de verdade. Com amor de verdade. Vale deixar o relógio atrasar um dia sim. Vale roubar no jogo, jogar os papéis para o alto de vez em quando.

Sem isso, a vida fica vazia. Fica tão inspiradora quanto uma pauta de escritório.

Vamos lembrar de ser mais humanos. Por trás de qualquer resultado, tem o sonho, tem o suor de alguém. Por trás da carinha cansada atravessando a porta, tem sempre alguém cheio de amor, cheio de vida para dividir. E com uma vontade de fazer um dia seguinte simplesmente mais feliz.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Oceano de mim

É, eu não sou daqui.

Eu sou do mar

Meu verbo é derramar

Até encobertar os grãos secos

de vida pouca, de pouco amor

Eu tenho o tamanho do abraço

Da linha azul no horizonte

É verdade, sou mansa

(como o sonho bom)

De envolver você em um balanço morno

Mas também sou tanta

Tenho o incalculável mistério do mar

Desenhada no brilho da beira

E com muita história além da superfície

Sou um convite, sou água

Queira beber, por favor

Se contém o sal,

não é para secar a garganta

Mas para encher de vida

Os cantos onde o azul se arrasta

Sim, seu moço, posso não ser certa

- qual é a agua que é acomodada?

E meu ruído horas incomoda.

Mas qual a onda que se traduz calada?

Até quando a brisa é mansa

Ouve-se o canto da boca encharcada

Do alto de uma sacada…

Venha quem quiser sentir

Pule quem quiser provar!

Tenho o número de encantos

Salgado, molhado, imenso, espalhado

Que alcança o mar!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Conjugando Sol


Sol não é do verbo ter

Não tem sol lá fora da janela de pátina.

Nem do verbo abrir.

Abriu demasiado sol enquanto eu dormi.

Sol é do verbo ser

É sol.

Sou sol.

Porque sol acontece

Como acontece a mudança dentro da alma

Impregnando todos os lugares

Onde haja ou não haja teto

Invadindo peitos, pensamentos, pedidos e mãos dadas

Ninguém tem sol de meio-dia

Todo mundo é sol

Como é gente, como é graça

Como somos do tamanho exato do céu

No nosso bafo quente de alegria

Misturados ao ar

Na grandeza do que sentimos.

Sol não se acha na seca rosa dos ventos

Sol não acordou na direção leste

Ou se despediu na oeste, querendo ir pro sul

Lugar de sol nascer é na alma

E é lá que se conjuga o verbo ser

Nem transitivo, nem transitando

Simplesmente transformando

Essa nossa vontade de iluminar,

de aquecer, de abrir

Quando, coincidentemente,

nos acontece a luz.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

o bonito do que vi

Quando eu estou passando por um momento delicado, costumo ouvir a opinião de muita gente. E o mais enriquecedor até o momento é ver como as pessoas vivem verdades diferentes. Como encontraram soluções próprias para lidarem com suas dores e dificuldades, das quais a vida não poupou ninguém. Há quem acredite nos sonhos, nos desejos mais utópicos do coração, e quem só acredite na vontade, nesta exata hora do dia, com olhos escancarados. Há os crentes e também os descrentes, chegando a me impressionar com suas razões. Há os que ensinam a serenidade, e nesses me apego, tentando pela primeira vez, ser uma pessoa melhor, da qual me orgulhe na vida. A calma que eles transmitem é quase uma confiança, uma nuvem que nos envolve no passar dos dias. E tem os que me ensinam a felicidade. Nunca me esqueço da frase: “permita-se o sofrimento, que é mesmo para ser vivivo. Mas não deixe que nada, nem ninguem, atrapalhe sua busca pela felicidade”.

-Paro por um Segundo para pensar: o que será que eu ensino a eles? Do que será que fala minha alma, com os atos, com o olhar?

É bom, nesse tempo delicado, descobrir do que as pessoas são feitas. Cada uma delas. O segredo que sustenta o seu sorriso, que muitas vezes foi constrúido com lágrimas, o seu jeito misterioso, a sua ignorância no que nem sabe que lhe falta, as suas receitas para o viver desse momento. Como é especial entrar nesse universo tão guardado por cada um. Me sinto privilegiada pelos corredores e portinhas que encontrei abertos.

Algumas vezes me assustei, muitas me surpreendi, mas pude ver como são diferentes as realidades. Como a vida para cada um é única, embora todos tenham o mesmo amor e vontade de lhe ajudar a vivê-la. Gosto de ver as pessoas doando suas receitas, me faz perto. De todas as coisas, essa foi a mais rica para mim, até este dia: descobrir como a verdade não tem dono. E se faz nova na alma de cada um.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

bahia

É alguma coisa que não tem nome não. Porque nem juntando outras coisas de nome parecido se consegue explicar. Já tentamo alegria. Já tentamo toda invenção. É alguma coisa que se sente, quando você encosta na beira do muro de pedra e enche os dedos de sal. É alguma coisa que se escuta, mesmo andando distraído naquele burburinho de tardes, tabuleiro e barraca. É alguma coisa que se prende nos olhos, entre o estampado azul e a rajada dourada, bem na curva do farol. É um embaraçado de palavras que deixa qualquer um tonto, cansado da procura. Mas todo mundo sabe que tem. É como chegar numa loja e abrir o sorriso. Mas não saber o nome do produto. É como dar um presente e a pessoa adorar receber. Mas não saber contar a ninguém o que foi que ganhou. E é tão presente, é tão forte, quase como uma pessoa que caminha do seu lado. Você sabe que tá ali. Entre o cheiro forte amarelado do rio avermelhado. Na conversa frouxa da morena com suas mãos nos dedos dela. No o dia que insiste, não tem pressa nenhuma de acabar, chegando a ser desajustado do mundo. É o quebrar da onda, mas é o abraço todo doado, que também se prende a você a qualquer canto que vá. É o qualquer coisa que enche os olhos. Que dá uma vontade danada de fincar os pés por baixo da areia e pedir pra ficar. É essa coisa danada que não tem nome de nada que faz a Bahia. E a gente fica curioso, tentando explicar. Mas eu já disse que coisa sem nome é da natureza do amor. É pra viver, não pra falar. Pra ver se assim não acontece de ninguém se atrapalhar.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Decido ser


Eu hoje escolho. Não gritar para não espantar os pássaros dentro do meu peito. Não me pertubar com coisa alguma que a calma resolva por si só. Não me encher de pensamentos a ponto de não escutar a música que embala os dias de paz. Não acreditar na agonia do outro, acreditar muito mais no tempo. Confiar que ser positivo não é uma forma de pensar, é ajudar a vida a fazer as coisas acontecerem. E não ser demasiadamente triste se posso escolher para onde quero olhar.

quinta-feira, 18 de março de 2010

entre nós

  Do que mais me orgulho não é o que apareceu na notinha. Nem do trocado que ganhei. Gostei das cores, claro. Gostei do que vi, entre tetos, das zuadas, risadas, do verde do litoral e do azul espelhado refletindo essa gente nos prédios. Mas é mais. Quando um lugar é novo para você, você é nova para o lugar. E ele vai senti-la, cheirá-la, esperar até que você queira ser. E do que vivi, o que mais me me deixa feliz é isso: o que construí em gente.

  Me alegra em alguns dias, que a vida não tem o menor interesse em contar, ter feito sentimento aparecer em corações distraídos, inéditos, desavisados como o meu. Me alegra ter rido gente. Ter trazido para perto.Ter deixado gente bonita nascer em mim. 

  Me alegra saber que conquistei cumplicidade. Que algumas pessoas estão com a minha causa, com o meu sorriso, até com as minhas dores. Me anima saber que já não sou mais uma, sou mais, a cada centímetro que percorro, a cada metro que permito amor.  Somos o que alcança o outro.  

  Me deixa orgulhosa descobrir que posso fazer amigos. E do verbo fazer, considerando o tempo com que se faz qualquer coisa: um pão, uma hora, um destino. Devagar, com cuidado, vezes com entusiasmo, vezes com espera silenciosa. Mas sempre, com uma gratuidade plena. Sempre com a verdade das afinidades que não precisam de razão. Tudo tão dado que chega a ser como prêmio o que me dão em troca: vida. Carinho. Abraço. 

 Me alegra saber que sou capaz de construir amor em lugares que nunca me viveram. E saber que já vivem em mim pessoas de rostos novos. 


Agradeço ao acaso e ao caso desse coração querer se abrir.


A todas as pessoas: Gratuitas. Bonitas. Comigo. Caminho.

sexta-feira, 12 de março de 2010

E logo gostei de jeito
daquele seu jeito de ser
mas eu que não tomo jeito
fui nascer com esse jeito
de gostar de tudo do meu jeito...

será que tem jeito?

Nasceu o meu siso

Nasceram, nasceram

Com força, sem pressa

Certeiro, primeiro

Nasceu o meu siso abrindo o caminho

Era eu

Era a pele

Era o novo destino

Era pele de nova eu toda certeira

Era nova eu pele abrindo a porteira

Era gente, era tempo

Era bom de nascer

Sou bem vinda, bem vida

De longe se vê

De sonho e saliva

Vermelha gengiva

De querer crescer

E crescemos nós,

No saber, no saber.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Nossa, quase abandonei vocês, não foi? Já estava com saudade de escrever mais. Volto logo com mais textos e poemas! 

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FELIZ
      O RISO
QUE NÃO PRECISA
           DE 
                MOTIVO!

só um pensamento.

Amadurecer me ensinou a esperar

A ter a calma dos mais antigos

Num sorriso de novo

Amadurecer é não se alarmar, não gritar

Encostar os lábios diante da força dos ventos

E mantê-los assim.

É descobrir que tudo pode sacodir lá fora

Mas aqui dentro silêncio, preservação.

E a fina esperança que nos diz que tudo podemos.

Amadurecer não é envelhecer no tempo

é aprender a senti-lo dentro de nós.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

verdeazul

É tão sol

E meu coração em mergulhados

De verde azul, verde azul

É tão abraçado branco

Esse céu

E tão espaçoso o riso em mim

Que abrigo passarinzisses todas

Há tantos suspiros e pulos, suspiros e pulos

Anúncios de verão

E eu quero uma corda solta, frouxa

diversidade de palavras na língua

Para dar férias a sílabas

Para deixar a alma se encarregar

De rolar na areia até virar onda

Mole, gostosa, mole…

E que ventorino é esse

Que balança meus fios carinho

Feito barulho de cadeira de vó

Feito enlace de dedos sabor baunilha

Poxa, nesse verão..

Eu também quero me pôr!

Em amarelo e laranja

Às cinco da tarde,

Pestanejando de brilho a areia.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

entupido

Todo mundo traz uma aflição dentro do peito

- sem número, nem metro, nem tipo

e hoje, nesse dia cor de negro

Esse menino embrulhado de passado

quer vir à tona, cheio de saliva e de sangue

e de tanto empurrar o meu peito

parece que vai me arrancar o hoje

parece que vai me levar junto

em seu desejo de partir

o menino é o dono de minha angústia

Todo mundo tem um pedaço amargo de caminho

que arrasta por entre uma madrugada de dias

sem um motivo que pareça ser real

todo mundo lá no fundo

quer fazer as pazes consigo

quer se pegar no colo por uns minutos

e dizer umas palavrinhas que costumam sarar

na verdade, parece eu tenho um motivo pra chorar

mas um motivo longo

que não seca quando suas lágrimas acabam

e vem aquele ventinho frio do alívio

parece que sempre volta meu motivo

em qualquer cair das seis...

Todo mundo ama sem precedentes

mas alguns choram uma dor fora do hoje

alguns sentem uma angústia de não caber

que não assenta em canto nenhum da garganta

a minha hoje está pedindo para nascer

como nasce em mim a mulher nova

a minha quer se despedir de mim

e não encontra forma

hora nenhuma, por mais abanar de braços

tentou até escapar por meio

desses fiozinhos de poesia

como se pudesse correr para sempre.


domingo, 17 de janeiro de 2010

Toda de contas - arte de crescer

Meu deus porque estou atenta

E costuro minha alma feito

Colcha de fuxico, das que cobrem o sofá.

Vou amarrando aqui, enchendo de pontos o outro lado

Vou acertando até que a linha

Esteja pronta, esteja certa

E de tão estirada e estufada em seu vermelho

Seja o caminho macio para os meus passos

Claros

Vou costurando sem pressa, com amor

Sei do que são capazes os bordados do meu sonho

Sei da delicadeza com que arremato a minha alma

Sei do que contam as estampas

Que gentilmente escolhi

Nesse acolchoado da vida

Sou uma tecelã, minuciosamente atenta,

Que algumas horas dá um ponto fora da cruz,

Que por um segundo, fura a ponta do dedo

Mas que devolve os mesmos olhos de amor

E volta as mãos antigas para o tecido,

Como se fosse um carinho levá-lo ao pé da agulha

E vai ficando bonito o desenho

Porque tem o cruzado forte de quem já andou

Aprendendo – e se pode ver

um colorido, desembaraçadamente bonito

Que parece que muda de tom

Cada vez que avanço mais um metro.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Pousado.

E eu olhava amando

Como se amar fizesse risca

E fosse contornando

Com uma gentileza despretensiosa

O tracejado do seu rosto.

E eu olhava amando

Como se amando pudesse cobrir

Em um entapetado de beijos

O que não era visível

Mas que estava amando olhar

Entre um assunto e outro.

E eu escutava amando

Como quem abraça as palavras

mesmo sem ouvir,

Como quem ouve música

De uma língua qualquer,

E se cobre com um som

por ser apenas familiar.

E eu esperava,

Apertando as minhas mãos,

Por um momento em que

O momento ficasse morno

Com uma mão pousada sobre a minha

Como uma eternidade de paz

Pousa sobre uma pessoa.


quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Agudos

Tem Dor que só sai num abraço

Apertado, apertado

Como se pudesse estourar a angústia

Até escorrer o fiozinho da paz.

Tem silêncio que só acaba com sim.

Tem verdade que só sai com água.

Tem criança que nunca quer ir embora,

Mesmo passado das horas no relógio de ponto.

Tem mudez que faz barulho alto no peito

E não deixa dormir de noite.

Tem saudade que só passa esfregando

Um no outro.

Tem vergonha que só passa se olhando

Tem medo que é tão forte

Que veste roupa de realidade

E a gente já não sabe quem é quem.

Tem a solidão que isola

e a que se enrosca nas pernas do outro.

O que não tem fim

é esse vazio

Que cabe tanto,

Que cabe tudo

De letrinhas calejadas de amor

A sentenças de alguma paz,

Até o assentar do dia.


*Inspirado na frase de Rodolfo Barreto " Saudade só sai esfregando um no outro"