quinta-feira, 16 de abril de 2009

A natureza me deu lábios finos, bem delicados,
para que eles não tivessem força de prender as palavras.
Tudo para um poeta dura mais. As horas, um encontro casual, um papel voando, a dor, a calmaria. Isso porque vive do que sente, e cuida para que o sentimento vibre, feito corda de violão, por intermináveis segundos, dentro da sua alma. Um poeta sabe capturar: prender entre os dedos uma mínima emoção. Dá-lhe um nome, um lar, uma roupa, um destino. E ainda que tenha alma aberta, feito porta escancarada, é difícil encontrar um único sentimento que queira ir embora. Quando não se apega ao criador, com tantos mimos que recebe, encontra uma saída tão embaralhada que acaba ficando, feito mobília da casa, em algum corredor. O poeta ama de tal forma, e com tanta intensidade aquilo que sente, que seja triste ou contente, idolatra-o com o mesmo amor. É mais do que uma inspiração, é sua companhia nesse solitário trabalho de sentir as abas do mundo. E quando chega a hora da despedida, então o escreve justamente, desarmado e rendido, arruma-o com calma, dissolve-o em linhas, e deixa que corra sozinho, pelos últimos minutos, manchando o papel.

Meu discurso é sem receitas. Hoje, só hoje, abrigo de opiniões. Estendido feito mato, aberto feito céu, amoroso feito gente. Permite que se cheguem, só hoje, sem assustar ninguém. Que deitem em suas músicas, que sintam o gosto de suas rimas. Venham porque ele chama, suas frases são quase um convite. Envolvem sem apertar, cobrem sem prender. Não se nega a alguém assim o gosto da entrega. Peço que vocês estejam hoje, só hoje, tão sem maneiras como ele está.