segunda-feira, 28 de março de 2011

Sala sua vida - ao lado do corredor.

E de repente, um peso. Veio de cima aquela mão, com vocação para corpo inteiro, e desabou sobre meus ombros. Assim, sem a menor dúvida, sem vacilar, como um homem-mandado para o seu trabalho. Comprimiu então aquela massa, que até ali era eu, e avançou sem nenhum pudor sobre minhas dores recolhidas, esmagando espaços, fibras e melindres com um polegar trator.

Em um golpe só, agarrou meu braço com força - como certamente costuma fazer com o destino - e puxou-o para baixo, de uma forma que me fez cair por cima das horas, despencando dos pensamentos mais altos e desabando sobre este minuto - o único que existia.

Na verdade, pouco sabia ela das minhas inquietações. Elas as amassava, num movimento frenético. Pouco importava o silêncio, porque para ela o estalo, o estalo é que tinha que ser alto e forte, assombrando a preguiça e a vontade de passar a vida no mesmo lugar. Curioso é que na semana passada, tinha sido completamente diferente. Um rapaz com um olhar oriental tocava a vida com extrema delicadeza, como se soubesse mais do que os outros das suas formas, da sua textura de veludo, da sua fragilidade balançando no ar. Não forçava nada, nem fazia barulho algum. Cheguei a duvidar se alguma coisa estava realmente voltando para o lugar. Mas quem é, quem é que não fecha os olhos e se entrega, quando sente que a vida está lhe levando em calmas mãos? Quando lembra de ser tocado por inteiro por dedos de útero? Praticamente dormi.

Mas ela não, ela era sem medidas. Amassou com toda força a dor que tinha se agarrado à minha coluna, e antes que eu fosse embora disse cuidado com a postura. Se passa muito tempo curvada, um dia você tenta voltar e não consegue mais.

Consenti silenciosa. Já era mesmo hora de erguer o peito.