quinta-feira, 29 de abril de 2010

Oceano de mim

É, eu não sou daqui.

Eu sou do mar

Meu verbo é derramar

Até encobertar os grãos secos

de vida pouca, de pouco amor

Eu tenho o tamanho do abraço

Da linha azul no horizonte

É verdade, sou mansa

(como o sonho bom)

De envolver você em um balanço morno

Mas também sou tanta

Tenho o incalculável mistério do mar

Desenhada no brilho da beira

E com muita história além da superfície

Sou um convite, sou água

Queira beber, por favor

Se contém o sal,

não é para secar a garganta

Mas para encher de vida

Os cantos onde o azul se arrasta

Sim, seu moço, posso não ser certa

- qual é a agua que é acomodada?

E meu ruído horas incomoda.

Mas qual a onda que se traduz calada?

Até quando a brisa é mansa

Ouve-se o canto da boca encharcada

Do alto de uma sacada…

Venha quem quiser sentir

Pule quem quiser provar!

Tenho o número de encantos

Salgado, molhado, imenso, espalhado

Que alcança o mar!

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Conjugando Sol


Sol não é do verbo ter

Não tem sol lá fora da janela de pátina.

Nem do verbo abrir.

Abriu demasiado sol enquanto eu dormi.

Sol é do verbo ser

É sol.

Sou sol.

Porque sol acontece

Como acontece a mudança dentro da alma

Impregnando todos os lugares

Onde haja ou não haja teto

Invadindo peitos, pensamentos, pedidos e mãos dadas

Ninguém tem sol de meio-dia

Todo mundo é sol

Como é gente, como é graça

Como somos do tamanho exato do céu

No nosso bafo quente de alegria

Misturados ao ar

Na grandeza do que sentimos.

Sol não se acha na seca rosa dos ventos

Sol não acordou na direção leste

Ou se despediu na oeste, querendo ir pro sul

Lugar de sol nascer é na alma

E é lá que se conjuga o verbo ser

Nem transitivo, nem transitando

Simplesmente transformando

Essa nossa vontade de iluminar,

de aquecer, de abrir

Quando, coincidentemente,

nos acontece a luz.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

o bonito do que vi

Quando eu estou passando por um momento delicado, costumo ouvir a opinião de muita gente. E o mais enriquecedor até o momento é ver como as pessoas vivem verdades diferentes. Como encontraram soluções próprias para lidarem com suas dores e dificuldades, das quais a vida não poupou ninguém. Há quem acredite nos sonhos, nos desejos mais utópicos do coração, e quem só acredite na vontade, nesta exata hora do dia, com olhos escancarados. Há os crentes e também os descrentes, chegando a me impressionar com suas razões. Há os que ensinam a serenidade, e nesses me apego, tentando pela primeira vez, ser uma pessoa melhor, da qual me orgulhe na vida. A calma que eles transmitem é quase uma confiança, uma nuvem que nos envolve no passar dos dias. E tem os que me ensinam a felicidade. Nunca me esqueço da frase: “permita-se o sofrimento, que é mesmo para ser vivivo. Mas não deixe que nada, nem ninguem, atrapalhe sua busca pela felicidade”.

-Paro por um Segundo para pensar: o que será que eu ensino a eles? Do que será que fala minha alma, com os atos, com o olhar?

É bom, nesse tempo delicado, descobrir do que as pessoas são feitas. Cada uma delas. O segredo que sustenta o seu sorriso, que muitas vezes foi constrúido com lágrimas, o seu jeito misterioso, a sua ignorância no que nem sabe que lhe falta, as suas receitas para o viver desse momento. Como é especial entrar nesse universo tão guardado por cada um. Me sinto privilegiada pelos corredores e portinhas que encontrei abertos.

Algumas vezes me assustei, muitas me surpreendi, mas pude ver como são diferentes as realidades. Como a vida para cada um é única, embora todos tenham o mesmo amor e vontade de lhe ajudar a vivê-la. Gosto de ver as pessoas doando suas receitas, me faz perto. De todas as coisas, essa foi a mais rica para mim, até este dia: descobrir como a verdade não tem dono. E se faz nova na alma de cada um.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

bahia

É alguma coisa que não tem nome não. Porque nem juntando outras coisas de nome parecido se consegue explicar. Já tentamo alegria. Já tentamo toda invenção. É alguma coisa que se sente, quando você encosta na beira do muro de pedra e enche os dedos de sal. É alguma coisa que se escuta, mesmo andando distraído naquele burburinho de tardes, tabuleiro e barraca. É alguma coisa que se prende nos olhos, entre o estampado azul e a rajada dourada, bem na curva do farol. É um embaraçado de palavras que deixa qualquer um tonto, cansado da procura. Mas todo mundo sabe que tem. É como chegar numa loja e abrir o sorriso. Mas não saber o nome do produto. É como dar um presente e a pessoa adorar receber. Mas não saber contar a ninguém o que foi que ganhou. E é tão presente, é tão forte, quase como uma pessoa que caminha do seu lado. Você sabe que tá ali. Entre o cheiro forte amarelado do rio avermelhado. Na conversa frouxa da morena com suas mãos nos dedos dela. No o dia que insiste, não tem pressa nenhuma de acabar, chegando a ser desajustado do mundo. É o quebrar da onda, mas é o abraço todo doado, que também se prende a você a qualquer canto que vá. É o qualquer coisa que enche os olhos. Que dá uma vontade danada de fincar os pés por baixo da areia e pedir pra ficar. É essa coisa danada que não tem nome de nada que faz a Bahia. E a gente fica curioso, tentando explicar. Mas eu já disse que coisa sem nome é da natureza do amor. É pra viver, não pra falar. Pra ver se assim não acontece de ninguém se atrapalhar.