terça-feira, 13 de outubro de 2009

Confissões jardinais

Fico feliz porque agora você já me viu derramada, sem hastes nem contornos que pudessem me fazer pessoa sólida. Fico feliz porque alguém já escutou meu choro – a força que vem da minha dor, transformada em música, ensurdecendo todas as razões comuns. Fico feliz porque a flor já tirou a sua roupa: ja está desnuda, borrada, enxuta. Mas ainda com seu amarelo de flor. Fico feliz porque você sabe que não é todo dia que meu dia gira. Que o sol aparece e enlarguece meu sorriso de gente. Fico aliviada por você ter visto minhas cores e descolores, meus atravessados e recortes. Saímos da superfície e remexemos a terra, e só em terreno mexido é que temos a chance de enraizar amor. Estou escancarada, revelada, contra toda tentativa de me emborrachar em uma máscara de carnaval. Agora você conhece a dor. Agora você conhece a flor. Agora você conhece Eu. (suspiro). E por incrível que pareça, é bom me ver viver como sou.  Afinal, assim como você, eu também estou aprendendo a me amar.