sexta-feira, 8 de maio de 2009

O porquê das rosas.


Se você perguntar a uma rosa se gostaria de ter nascido cacto, é bem possível que responda que sim. Porque lhe custa muito ter os espinhos apenas no talo e ter tanta fragilidade à mostra. É por isso que as rosas levam tantos dias para se abrir. É quase um parto, uma despedida de sua doçura, um convencimento de si mesmas, uma fé arriscada, uma superação, um lamento se revelar e estar para sempre à mercê do mundo. Ninguém quer a sina de ter tanta delicadeza exposta. Assim são algumas pessoas, pessoas-rosa. Armam-se de tal forma, como se cravando os dentes, pudessem esconder o orvalho no canto dos olhos. Quem não as vê de perto ou não tem coragem de desafiar suas pontas, não descobre a beleza esmiuçada de seus traços e o desejo ingênuo que carregam de ver o mundo por inteiro protegido. Para quem é rosa, a vida chega a doer mais. Porque não são preparadas para ver a fragilidade humana, a fraqueza do mundo, mal são capazes de lidar com a própria. O vacilar do mundo lhe cai as pétalas. E chora ser rosa.

Fechada é um não para a vida. É uma noite escondida no vermelho escurecido de seus lados. É uma privação do céu ao seu perfume. Mas quando decide não mais fingir a rosa que é, tudo acontece. Quando assume para si mesma a própria natureza, estende sobre a vida uma beleza aguda, com o seu desengonçado abrir de braços, desdobrar de sonhos, em uma ignorância bruta de rosa, mas com uma verdade, uma sinceridade tão grande, que faz o mundo também ser quem é, e perder o medo de uma simples rosa.