Meu deus porque estou atenta
E costuro minha alma feito
Colcha de fuxico, das que cobrem o sofá.
Vou amarrando aqui, enchendo de pontos o outro lado
Vou acertando até que a linha
Esteja pronta, esteja certa
E de tão estirada e estufada em seu vermelho
Seja o caminho macio para os meus passos
Claros
Vou costurando sem pressa, com amor
Sei do que são capazes os bordados do meu sonho
Sei da delicadeza com que arremato a minha alma
Sei do que contam as estampas
Que gentilmente escolhi
Nesse acolchoado da vida
Sou uma tecelã, minuciosamente atenta,
Que algumas horas dá um ponto fora da cruz,
Que por um segundo, fura a ponta do dedo
Mas que devolve os mesmos olhos de amor
E volta as mãos antigas para o tecido,
Como se fosse um carinho levá-lo ao pé da agulha
E vai ficando bonito o desenho
Porque tem o cruzado forte de quem já andou
Aprendendo – e se pode ver
um colorido, desembaraçadamente bonito
Que parece que muda de tom
Cada vez que avanço mais um metro.