terça-feira, 21 de abril de 2009


TUDO QUE AMO DEMASIADAMENTE de repente nada. Não é um abuso da coisa em si, da figura amada. Mas do meu próprio desespero, do meu suor e rubro nas bochechas, do meu arfar em tentar prender o instante com as mãos, do ardido nas coxas, dos olhos incansáveis no mesmo alvo, faça pedra, faça chuva, faça tombo, faça sonho, faça pão. Me canso não dele, mas de mim. E quando então explodo, em um ódio autêntico e descompensado, que espalho cada átomo dessa paixão, volto então serena. Feito chuva mansa, feito cachorro magro, que depois de dias, acha o caminho de casa e reconhece, enfim, o seu dono.

Complicações

Como pode, meu Deus, tão estranha natureza? Com tanta leveza nos pés e uma aplicação tão complicada? Como pôde colocar em um só lugar a giganteza do amor e a miudeza das perguntas? Como se não soubesse que a paz, em sua sonolência, não aceita o passa-passa da inquietude. E que toda alegria precisa de ar e de fome e de espaço, ainda que tenha que empurrar os pensamentos. E que o amor, com sua fama incondicional, não é lá muito de diálogos nem adepto da razão. E pusesse, meu deus, as duas coisas juntas: a pluma no meu peito e a interrogação nas minhas mãos.

Do mau humor

Mau humor é o empurrão que se faz para dentro para segurar o arruaceiro das vontades.

Mau humor é a força que se faz para dentro para conter tantas palavras indignadas.