quarta-feira, 15 de abril de 2009

Se você reparar bem, meu amor, até o mar de vez em quando é deserto.

Depois

Se eu soubesse, quantos mais? Quanto tempo teria deixado o meu lábio encostado na sua pele, se demorando em dizer qualquer coisa? Se eu soubesse, quanto carinho. Teria me perdido sem pressa nenhuma a noite inteira no seu olhar. Teria dito a verdade, mesmo que sem palavras, aberto as mãos. Estaria entregue, inteira, vivendo demasiadamente o agora, sem medo do meu amanhecer. Melhor mesmo é viver. Estou pelo ar, a uma hora dessas, passando pelo lugar onde estivemos – ainda há risos lá. Parei para ver nossa história, porque quando o tempo passa, quão nosso ele fica. Perde a pressa de ir embora, de nos levar. Amei os segundos, lamentei o relógio ao contrário. Imprimi você em minha alma, só para ter certeza que, de uma forma ou de outra, o agora não ia passar.

Sem crachá

Nenhum tinha convite. Não faziam questão alguma de se apresentar. Vinham do bloco do branco. Só tinham a cara, mas pouquíssima explicação. Ninguém sabia muito o que fazer com eles, deixaram que adentrassem o salão. Que comessem o que quisessem e olhassem, no fundo do olho, do primeiro que passasse – azar o dele. A graça não era saber de onde vinham, mas ver do que eram capazes. Ver seu excesso de coragem, sua audácia em revirar tudo, falando alto, criando caso. Quem iria lhes dizer que não podiam? Se tão pouco tinham nome, muito menos boa educação. Enquanto eles estiveram, ninguém mais fez nada. Foi como ser observador na própria festa, salvo um ou outro copo de whisky. A eles, tão donos de si e tão fora da lei, apelidei de sentimentos.