segunda-feira, 27 de abril de 2009

Que gosto me dá ver suas linhas,
ainda que imaginárias ,
Corro para escrever qualquer coisa
apenas pelo prazer de preencher-te.
(Folha, você é mulher,
sabe bem como é.)

Punho

É isso. Eu não gosto de olhar para os meus punhos. Sempre que eu posso, cubro-os com pulseiras grossas, largas e rente à pele. É que eles são assim: finos. Desde sempre, desde ontem de tarde, desde a infância. Me dá uma sensação de fragilidade imensa, como se o corpo já estivesse sentindo ou revelando qualquer das fraquezas que de vez em quando acham de dormir o meu espírito. Parece sempre que eu estou diminuindo, prestes a quebrar, quando na verdade é ele que não sai do lugar. Basta encará-lo para me perder, em plena sinaleira, no meio da minha vida: não sei mais se estou nos 20, nos 30 ou nos 8 anos de idade (E com certeza deve haver um tempo, um bendito ano que não quero voltar). Não comporta um pulso tão fino depois de tantas lutas, tanta coragem, tantos enfrentamentos na minha vida, não é justo. É uma pena que o espírito engrosse, inflame a casca e o punho continue assim. Lembrando sempre minha fragilidade. Minha meninice. Mostrando que no fundo, no fundo, droga, eu continuo embaixo da cama.
Eu prefiro ser assim,
exageradamente eu,
cansativamente eu,
do que um pedacinho de alguém que não nasci.
O silêncio tem muitos tons. Sim, o silêncio. O que incomoda mais não é o vazio de voz, é a seriedade que ele encobre ou transparece. Minha mãe, por exemplo, tem um silêncio muito alto. É quase brutal o silêncio de minha mãe, ainda mais se vem acompanhado de um olhar. É um silêncio que fala, pior, que fere. Mas há de todo modo muitos silêncios. Há vezes em que eu entro na sala e ninguém quer falar nada, nem mesmo com o sorriso, nem mesmo com os olhos, e ainda assim nenhum de nós se machuca. Há um respeito mútuo pelo tempo do outro, pelos segundos em que ele prefere estar nesse estado, ausente do mundo. Há outros silêncios que falam tão forte que se sente, em um raio de quilômetros, em quilômetros de anos, como se estivesse falando no pé do ouvido - mudez entranhada de amor. Há os que não querem dizer, há os que já dizem, só em fazê-lo. Se você prestar atenção, há uma barulheira de silêncio (pouco ou muito suportável). E quanta beleza há em tanto branco. Eu vou aqui, seguindo com o meu, que, hoje, é só de preservação.