quarta-feira, 16 de março de 2011

VESTIDA DE FLORES



Acaso você nunca nasceu

com um punhado de flores acoroadas

trepadas feito jabuticabas no pé

bem agarradas no seu tronco


Por acaso você não tem os olhos manchados

de tantas cores das bromélias e girassóis

uma confusão só das tintas todas

enchendo seus dentes e dedos


Por bem nunca aconteceu na sua manhã

do sol mudar-se para sua casa

de passar perninha por perninha pela sua janela

sentar-se em sua cama para uma prosa


e sua ciranda nunca girou girou

e seu corpo nuca teve vontade de ir atrás do pedalinho do menino

e você nunca teve vontade de descer rolando a ladeira

e rolar por ela todas as suas vontades


e suas mãos nunca foram um aplaudir de pé

e seu dia ainda não foi um infinito dia?

e seu cascalho nunca foi todinho vivo

de miudezas brancas e um cheiro de mato?


pois é assim que está me acontecendo agora.


poesia saborética

Poesia saborética do cotidiano

Anote aí sem preconceito algum

3 coxas de frango

uma latinha de atum

3 pacotes de batom

e um pão de alho enfileirado


Anote um sabão normal,

desses de esfregar a mão

e o de tubo

- coisa de gente vaidosa


Tome nota da pasta de dente,

mais conhecida como creme dental,

do refri de todo dia

um suco de uva de qualidade

e frutas que já venham cortadas

homenagem mor à preguiça


Tome conta desse Minas-padrão

homenagem à toda linhagem marital

e um potinho de requeijão


nessa poesia quase cotidiana

nessa riqueza toda de feirinha

a nossa lista em cima da mesa

o nosso amor escrivinhado na cozinha


Coisa de nós dois

tão singela

um parzinho de lingüiça apimentada

ria como for, meu amor

é nossa poesia de segunda-terça-quarta.