domingo, 26 de abril de 2009


É muito difícil amadurecer. E eu não sei nem como lhe prevenir para isto, porque não se sabe se lhe acontecerá na infância, na velhice, aos 41, no meio dos 29 anos, depois de uma grande celebração – o que torna qualquer tentativa de aviso desse texto inútil. Mas uma coisa torna-se certa. Dói. É um fim, por assim dizer, no meio de um começo. Fim de colo. Fim da espera. Fim da certeza. Fim de qualquer que seja, a mínima que seja, resposta. Fim de caminho com alguém, agora é você só. Percebi isso quando só faltei espremer do universo uma resposta, como se agarra os bagaços de uma laranja, e só se ouvia o eco do silêncio. Uma tristeza infindável, uma sensação de daqui por diante “é com você”. E que na verdade sempre foi, só não tinha percebido. Uma sensação de que é você que vai procurar, achar, sentir. Até esse nada, é você que vai sentir. Dói a descoberta. Talvez até mais que vivê-la. Escolher é uma coisa que nem sempre estamos preparados. A mudança, nem nunca fomos apresentados e agora já temos que mandar nela. Vida louca, prova dura. Mas dizem que assim é que se nasce. É assim que se nasce todo dia, porque me parece que a vida conspira todo o tempo e só quer uma coisa de você: que tenha os braços fortes. E não importa mais quantas vezes ela vai sacudir, simplesmente partir a linha do horizonte ou revirar seus meridianos. Pouco importa. O foco talvez seja você. Anoiteço com a dor fraquinha, com os olhos cheios de lágrima, de quem ainda considerava o mundo um berço. Mas respaldada em uma certeza menina que esse separar de chãos ainda vai me levar a algum lugar. Ainda que seja dentro de mim.

Por ontem

Nunca desfiz um texto. Mas você mereceu.

Desatei cada letra enganchada e fui emudecendo o som das vogais. Sufoquei as melhores palavras, enterrei os começos e fiquei com os finais. Rompi os ditongos, hiatos, todo som que vem de união. Chutei para fora da frase toda e qualquer conjunção. Vi o verso perder a rima, vi o poema se endurecer. Nenhuma metáfora de amor cogitou aparecer. Fiz a letra virar linha, fiz a linha se empenar. Borrei com choro a tinta de caneta, torci pro papel não secar. Chorei o início, o meio e aquilo que nunca morreu.

Mas fique com o ponto final. Ele é seu.
Eu conheço uma menina que não palavreia. Que não fala a verdade sobre si mesma, nem mesmo a verdade doce de uma menina de dois anos. Toda vez que a vejo, eu pergunto se está com saudades. Ela nunca responde. Mas se a pego no colo, ela gentilmente deita a cabeça no meu ombro, fecha os olhos e solta os seus braços, como se quisesse fazer parte de mim.