sexta-feira, 17 de julho de 2009

ATOS

Mas no meu não, cada dia é uma nova cena, aliás, é uma nova peça em cartaz. Nunca sei que máscara vai acordar agarrada em minha pele, se há de arder em mim o choro ou o riso. Se há ódio, como hoje, estremecido, de tanto amor. Senhores, eu me penduro nas cortinas, eu rasgo cada pedaço de seu manto aveludado para fazer de cobertor! Seja como for, estou no palco. Estou cuspindo meus medos, enfrentando meus dragões. Não posso anunciar meu espetáculo de pé, porque ele é feito na agitação dos segundos, na agudez dessa hora, nada se pode prever. Eu não posso conter a mania de letras e a transformação em atos, sou somente tomada. Sou apenas o mesmo diretor que entra em cena, o mesmo ator que chora na platéia. Há um invento um tanto imenso para tudo isso. Querer dar forma a cada palmo de ferida, a cada gota de saliva sentida. Mas isto é a minha vida, que também se arruma para ser, e se perde e ganha em cima de qualquer tabuête. Se deseja explodir, que seja. É porque nunca coube em si.
E aquela alegria me vinha soluço. Sobressalto no meio do texto, assalto de minhas funções. Pequenas convulsões de riso, até estalar na face. Simplesmente vinha, toda menina, desejosa de sair, pular pro mundo. Difícil conter, explicar que naquele momento eu era um texto importante, sério. E lá vinha ela com estabanada felicidade em momentos comuns. Parecia um escorrega da alma: eu a empurrava pra dentro, e ela voltava gritando, cheia de impulso. Aprendi a gostar do seu jeito, a rir dessas loucuras, adorável companhia. A essa cócega repentina, em horas desavisadas, apelidei gentilmente de sintoma de você.