segunda-feira, 14 de junho de 2010

Passeado

Amor então era aquilo

Um transpassado de mãos

Uma corrente delgada e escorregadia de carinhos

Uma vizinhança de janelas abertas

O caminho de pesponto que faz um passarinho

De um em um

De tela em tela

Canto a canto

Amor então era isso

O que vai e vem entre os olhos

O que passa e se espalha ao sabor do vento

Amor é polen

É experimento

Linguagem danada de tagarela

Que fala sem ninguem ver

É coisa de dar alma cheia

Amor passeia

Passageiro no tempo

Amor é o abraço dado

De incontaveis mundos.

Dia Claro

Porque era uma segunda diferente

Branca, aberta

Feito boca de janela

Era uma segunda dizente de sim

De toda alegria infame

Que cabe entre mãos e pontas de dedos

Era o meu mundo amanhecendo numa segunda

Me convidando para um sorriso solto

Para um destino leve

Era braço aberto de mundo

Era peito aberto janela

Era ela

Era ela

Gostando mais

Da vida dela.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

A linguagem por debaixo dos lençóis

De repente, quente. Tecido macio diferente, cobrindo tudo como nunca pensou um fio de algodão. E debaixo de montanhas, de listras, pespontos, felpos, mãos. Encontro entre os dedos, saudosos, depois de tanta noite, tanta procura. Esquecidos lá embaixo, se falam: pés. Avisam consideravelmente que naquele silêncio todo estão ali, um para o outro. Caprichos de sonhos, isolados, agitados, e no entanto: encosto. Um mundo de amor se recosta suavemente sobre sua pele descoberta. Segue sono. Segue noite. Turva. Contínua. INFINITA. Corpos em tempos, espaços distintos, e o abraço dado num bafo de respiração. Mas de repente, no meio das horas, em um cisco de realidade, um estalo de suspiro, novamente eles, em pontas de dedos, em olhos fechados: mãos.