quarta-feira, 15 de julho de 2009

Cumplicidade

Olhei. O cursor do teclado piscava e piscava, em um ritmo contínuo e marcado, contínuo e marcado, como um coração pulsando no meio de um peito branco e pálido do papel. Parecia a batida das palavras clamando por um pouco mais de vida para contar. O fôlego ofegante de um documento de texto. Eu o olhava. Ele a mim. Como que esperando, esperando a próxima letra. E de próximo eu nada sabia, nem dos capítulos, nem do desenrolar da história. Ambos pulsávamos. Ambos batíamos. Naquele ritmo ansioso e atento da espera. Ele fitava o meu branco. Eu olhava o vazio dele, sem medo. Nos perguntávamos a mesma coisa: se haveria palavra certa para desengasgar, se valeria querer adiantar alguma coisa. Nos aquietamos. Nos confortamos em um silêncio amparado, no aconchego que às vezes traz o recolhimento e a economia de palavras. A tela foi se escurecendo, no ritmo dela, como se quisesse também adormecer, em cumplicidade a mim e a um velho cursor. Sabíamos que por trás daquela noite digital, e debaixo dos nossos olhos, ainda havia o mesmo ritmo que persistia insistente. Mas agora eram apenas os segundos, cumprindo sua função de passar e virar a página, escrevendo a história enquanto a gente simplesmente dormia.

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