sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Pálida cidade

Chovia uma chuva fina branca, um descolorante de cidade. Respirava frio, numa aflição do passar das horas, num esquecido entre os carros. Nem parecia sexta. Nem parecia dia nenhum. Nem sabia ao menos onde estava eu, se não fosse pelo agudo insistente no peito. Às vezes a chuva é sua cúmplice – você sabe que dentro de você alguma coisa também quer derramar. E se não for para mostrar o riso, melhor mesmo que chova, para escondê-lo entre os casacos. Não deu tempo de reclamar. Nem de reparar no sinal que acabou de abrir. Olhei para cima e vi na janela, na brecha da Cortina, uma mulher que segurava um bebê e balançava, balançava, olhando para ele. Segundo parado. Pedido de pausa da vida. O mundo parecia cinza, mas naquele momento era branco, cabia entre os braços e cheirava a carinho. A moça somente embalava seu filho. Em um ritmo fora do mundo, em um silêncio longe dali. Mas com um amor que atravessava a janela e dava abrigo a quem estava do vidro pra fora, congelado em vida comum, esquecido de viver. Éramos todos ninados por aquela mulher. Bom poder sentir em cidade tão fria, um pouquinho de calor.

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