sexta-feira, 15 de maio de 2009

Mensageiros do tempo


Existe um povo que vive. E vive simplesmente. Mas existe um povo que avisa. Que é luz de beira de estrada, é telegrama do destino, balcão de informação da vida. Tem gente que está no lugar certo, na hora certa, para lhe confirmar o caminho, lhe dar os suprimentos de viagem que enchem a barriga d´alma e aquecem as inquietações, feito uma manta encomendada. Gente estratégica. A palavra dessas pessoas é farol em noite de neblina. Chegam simplesmente sem avisar e estão lá, não por acaso, mas já esperando por você. O que você recebe delas não é nada menor do que a voz do universo. A resposta às suas indagações, o bilhete da passagem que vai te deixar na próxima estação, nesses trilhos horas tão duros, horas tão difíceis do caminho do crescimento. A essas vozes mansas, que atenuam corações e olhos dilatados, que são a notícia boa que viaja, mensageiros do tempo tão bem disfarçados pela despretensão, meu mais sincero agradecimento. Vocês são o marco de passagem em minhas páginas. O que encontrei nos olhos de vocês é luz para levar com os meus. Sigo com a certeza de que o encontro leva apenas o tempo necessário – a caminhada com os próprios pés prossegue sozinha – mas aquilo que recebi permanece agarrado a mim, por milhas infindáveis e tempos que me esperam, em um destino sem nome anunciado, mas aguardando com ansiedade o meu.



Dedico esse texto à Rose e a todos os amigos que me agraciaram com o mesmo papel.

3 comentários:

  1. Muito verdadeiro,Lu!!!
    Concordo inteiramente...
    Bjo,Carol

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  2. Luise

    Numa tarde nublada de outono, entre abril e maio, sentado num banco de praça, observo as folhas, que, tendo cumprido seu ciclo, caem secas sobre a terra molhada. Vejo velhos enamorados, jovens jogando damas, e crianças... Por entre as amplas copas de amendoeiras centenárias, de grossos troncos e longos galhos, alguns poucos raios de sol tocavam a pouca grama que ainda havia no parquinho infantil. Iluminada sob o sol, vejo uma menina aparentando 8 anos, com um lindo vestido vermelho de vários tons, de estampa simples e bordado singelo, sapatinhos de boneca, traços finos, cabelos negros, nem cheios nem vazios, e naquele quadro de Renoir, o que mais se destacava eram seus olhos, grandes e arredondados de um castanho escuro e um brilho...brilho só encontrado em olhares de criança. Ela olha pra mim e sorri sem razão; vira-se, e ali naquele ponto, sobre a grama e sob o sol, fecha os olhos, abre os braços, levanta a cabeça e deixa-se banhar de luz. Havia uma dúzia de crianças ali naquela praça. Todas cheias de mimos, vontades, medos, todas tão carentes de atenção e querendo tantas coisas ao mesmo tempo... mas não aquela menina, aquela menina não... Algumas pessoas vivem uma vida inteira e continuam pensando que viver é movimentar os corpos, que é preciso intensidade, paixão e mesmo quando tudo está perfeito parece que ainda há algo a ser feito... outras descobrem, ainda muito cedo, que viver é encontrar a luz e descobrir-se nela, e, deixando-se preencher por ela, naturalmente transbordam. Aquela menina me deu algo muito especial quando sorriu pra mim. Percebi, não muito longe, um vendedor de balões. Aproximei-me dele, tentando não desviar o olhar da menina, comprei um balão vermelho e segui em direção a ela; sem dizer uma palavra, coloquei o cordão do balão em sua mão, ela abriu os olhos, delicadamente, enquanto volta-se para mim, sorriu uma ultima vez, e voou...

    Chamamei-o Luise, mas poderia chamar-se *Tardes.
    Fico feliz em visitar a nossa o igreja, as “palavrasdeluise” preencheram a minha tarde e encheram-me de alegria.

    Grande Beijo!

    Daniel

    *Tardes
    Eu nem me lembro que horas eram porque as horas nem quiseram dizer nada. A graça era se perder no tempo. Meus olhos espalmavam feito folha de coqueiro e quanto mar havia, dentro e na beira de mim. Deitei meus pés sobre a areia e, naquele momento, minha alma era carinho para o mundo. Tão misturada estava que até meu fôlego tinha a pulsação da tarde. Foi a primeira vez que senti um silêncio que dança. Porque nada fazia movimentos bruscos, mas meus cabelos rodopiavam, anunciando a música que havia em mim. Deitei, para respirar na terra feito criança que se despoja no peito do pai. Derreti. Esqueci. Dormi. Senti tanta paz que eu parecia me dissolver no dia. Éramos eu e a tarde uma coisa só. Nunca mais tinha visto tudo em mim com tanta liberdade, em tanta sintonia, parecia que eu docemente me alargava, ganhando a extensão do universo. Nascer de parto normal deve ser assim - pensei assustada. Como ser acordado bruscamente de um sonho vespertino. E ter, por um instante, a estranha sensação de ter se desgarrado do mundo.

    P.S. Espero que Paula não brigue comigo por ter colocado o balão na sua mão. rsrs

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  3. Daniel, eu gosto tanto quando isso acontece: quando a emoção é para mim tão forte que eu mal consigo começar a escrever um texto, uma resposta. Foi isso que aconteceu comigo agora. Se as minhas palavras te encheram de alegria,as suas não poderiam vir em melhor hora. Abri o meu blog, e mesmo sem saber, procurava por elas, como eu queria um presente para alma. E encontrei o mais lindo de todos. Quando lia o seu texto da menina, sorria sozinha, pensando: essa menina parece comigo. Eu também sinto isso. E como me sentia feliz por ela. Quando descobri que você pôs no texto o meu nome, quase fui literalmente aos céus, mesmo sem balão, de tanta alegria!!! lindo, lindo, lindo! Deixei minha alma ficar bem cheinha, como o balão daquela criança. Queria te agradecer pelo "carinho palavreado" que hoje foi tão importante pra mim. Quem vive derramando palavras ao mundo, as vezes precisa receber delas a mesma alegria. Foi o que você fez por mim. Queria agradecer via e-mail, mas acho que não tenho o seu (aproveito e peço!). Então deixo aqui, aonde vc deixou meu presente, meu cartão agradecendo.
    Um grande abraço,
    Luise

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Fico muito feliz com a participação de vocês. Quem preferir pode mandar um email: lubacoli@hotmail.com. Obrigada!