quarta-feira, 10 de junho de 2009

Para Carol levar na viagem




Sorridente movimento. Sente. Tanta alma escapando entre os dentes. Tantos meninos em um mesmo olhar. Tantas vidas em pontas de dedos, que quase grita a pele. Há tapetes de nuvens lá em baixo, mas aqui dentro não há gravidade. Só leveza, é só o que tem. Soltamos os pés devagarinho, mas algo em nós já caminha longe, pulou com o vento do trem. Apertamos papéis para que o tempo passe, vai de um lado pra outro uma conversa de caixinha, em breve seremos nós. Lá fora neva, carimba, canta, faz frio, deixa escorrer sonhos mornos pela janela. Mas não temos coragem de colocar tanta poesia por trás da cortina, espiamos tudo, metade de nós do lado de fora. E se embaça, é o respirar da vida, suspira ela. Olho para a porta: uma mala é sempre uma. É sempre pouca, porque levamos o que somos e voltamos infinitos. Nunca nos cabem as vontades dobradas em uma mala só, etiquetada. E nunca comporta as experiências, as risadas nas escadas, os silêncios entre os braços, ou pagaríamos excesso de peso. A graça é ser viajante, é ser tudo tão livre, tão presente e despedido, como passam os postes acobreados, as crianças vermelhas, os olhares, os artistas. Como rodam as músicas, os abraços. Tudo passando em volta de nós, e a gente como que girando, querendo segurar o mundo por mais instantes. (E é bom saber: uma parte dele também fica para sempre, viajando em nosso peito). Há tanto para se ver - diz para si mesmo. Voe. Eu finjo de conta que não vi. Pode fingir ser o que não é, pode viver outras, pode amar sem nem saber que ama. Sem contar as medidas, sem. Estire-se sobre uma grama. Volte cheia. Volte ainda rindo, sem saber muito o caminho de casa. Volte se perguntando de tudo isso, entretanto, será, porque quem descobre fica assim, inquieto. Quem sabe, não te encontro ainda por lá, decorando uns postais ou pintada nos selos. Quem sabe não te encontro lá, tão misturada ao velho som de um violino. Quem sabe não há cores todas trançadas na volta do seu cabelo. Porque se Paris chega a você, quanto de você derrama em Paris. Nunca mais será a mesma, não sairá intacta desse encontro, ingênua cidade. Vive. Escuta esse som desnudo: vive. Porque isso é o melhor que posso te desejar, e por sorte, é tão seu.

2 comentários:

  1. LU,obrigada....
    Muito mesmo!!!Vou levar comigo as suas palavras
    tão estimuladoras,leves,alegres e intensas como você....
    Vc éuma escritora nata.Agradeço à Deus por ter lhe conhecido.Beijo grande,Carol

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Fico muito feliz com a participação de vocês. Quem preferir pode mandar um email: lubacoli@hotmail.com. Obrigada!