Cismo com meu celular. Somente porque ele tem vontade própria. Ele podia ser um mero respeitador de outras vontades, da vontade de quem não manda na vontade e quer falar, na vontade de quem espera outra vontade para finalmente ouvir. Mas não. Ele quer ser ele. E eu não gosto quando nos momentos em que mais preciso, de uma emergência que podia ser policial, mas é delicadamente doméstica, ele simplesmente não funciona para me convencer a usar a paciência. Nem quando eu estou precisando encontrar minhas respostas, em uma angústia desmedida, e ele está fora da área pela simples cumplicidade de me deixar só. Eu preferia que ele não se metesse. Porque hoje, por exemplo, eu estou com essa falta, com essa saudade enorme de alguém que não sei quem é. Chego até a chorar muda, caminhando pela casa, porque não se sabe nem por quem sinto tanto. E não dá para se despedir, nem para pedir pra voltar e dá um medo de perder. Estou assim desde de manhã, um dia todo avesso, como se eu tivesse vestido uma roupa esquisita, desconfortável. Horas me apertando o peito, horas a cabeça. E justo agora nessa falta de ninguém, ele não liga e fica como eu: “procurando”. Não me deixa falar com qualquer um e me obriga a dissipar o amor pelo canal da intuição, da lembrança, do afeto que vem tão junto da memória. Eu queria poder dizer isso a alguém, contar do meu doído, mas não posso, porque sua personalidade também é forte demais. Seguimos em silêncio, eu e ele. Eu com um pouco mais de vantagem, porque tenho as linhas e com elas também escorro, escapo. Mas ele fica ali na ponta, irredutível, frisando essa ausência que pode até ser de mim.
Bem queria que ele fosse só um celular.
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