domingo, 3 de maio de 2009

Dos dias de inverno

O bom da chuva é essa saudade que sobe junto com o cheiro quente de chão molhado. É o hálito amoroso da natureza. Me acalmo só em sentir chuva do lado de dentro. Me alegra ver as pessoas passarem tão vagarosas quanto o próprio dia, tão quietas como tudo lá fora. No frio todo mundo se esconde, fingindo que o dia é só seu. Mas não. Não se deve cometer o erro grave de querer que tudo se aqueça. Para que? A graça é sentir chuva sem se molhar, é precisar de um calor que é tão particular e que pode lhe vir por um sorriso nos olhos, por um encontro de mãos, por linhas de um capítulo, por gomas de açúcar, barulho de poças. Se não fosse a chuva, tão pouco despencaria uma torrente de vontades. E de auto-gentilezas. Que confidência é a chuva em casas de cobertor. Que confeito é o chuvisco em meios de semana. Como descrever a incrível sensação de pé gelado em lençol gelado e uma alma deliberadamente espaçosa, de largos sorrisos, embora embrulhada aos joelhos em um canto quente da cama.

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