quarta-feira, 6 de maio de 2009

Delicadezas semanais

Apenas delicadezas.

Hoje eu faria carinho numa mosca. Vai ver só porque estou precisando de carinho (especialmente do meu). Tem uma bem aqui, parada no meu monitor, nem anda , nem se mexe, absolutamente concentrada em suas reflexões. Vai ver não tem a pressa que eu tenho para entender o que sente. Vai ver dormiu – para mosca só é preciso se sentir seguro, que nem a gente em ombro de novo amor. (Devo confessar que é uma honra ver que uma vida mosca não se sente ameaçada com o que sabe de mim, a ponto de querer descansar). Fato é que o silêncio da mosca me comove. Me lembra o meu. Nem quis atrapalhar. Sabe lá se não está magoada também com alguma coisa que lhe disseram. Decidi parar de pensar. Ela deve ter se incomodado com minhas tentativas racionais de adivinhação porque acaba de mexer as patinhas.

(Tomo cuidado na hora de passar a bolsa. Quanto tempo ela ficará aí? Sorrio discretamente. Encontrei companhia para minha tarde.)

(16:15. A mosca toma seu rumo. Viu? Depois de um tempo só, todo mundo toma coragem e voa.)

(19:40. Nem sinal da mosca. Quem vai, não volta atrás.)



* * *


Me olhei no espelho. A primeira coisa que vi foram minhas orelhas. Já é a segunda vez que me acontece, que estranho. Primeiro eu pensei que é porque eu estou andando mais de rabo de cavalo, deve ser isso. Mas minha psicóloga ia dizer que é porque eu já estou achando uma razão para tudo. É verdade, deve ser a mais pura verdade: minha orelha quer aparecer. Quer me mostrar que, de uns tempos pra cá, ela deseja fazer mais parte do mundo, está quase abraçando a vida projetando-se para fora. Vai ver cresceu minha capacidade de ouvir – mundos, pessoas - e eu nem percebi. Nem sei desde quando, nem que crescimento já me trouxe – sinto apenas que elas também estão ganhando mais espaço, o espaço que eu dei. Ou talvez, só estejam avisando que agora sim, com a companhia delas, estou pronta para aprender. Engraçada essa vida. Até quem é feito para escutar quer me dizer alguma coisa.

3 comentários:

  1. Quem diria...
    até a mosquinha, uma hora, resolve tornar-se oceano...

    ResponderExcluir
  2. Ou será que a senhorita está mais sensível e percebendo algumas coisas que pareciam invisíveis?

    ResponderExcluir
  3. perfeito amiga...!! com certeza aprendemos muito quando ouvimos mais e falamos menos...
    PARABÉNS!!!
    Beijos

    ResponderExcluir

Fico muito feliz com a participação de vocês. Quem preferir pode mandar um email: lubacoli@hotmail.com. Obrigada!