terça-feira, 7 de abril de 2009

Desculpe a minha falta de vontade para a segunda-feira. Para o feijão marrom. Para a sinaleira. Para o nescau com pão. Perdoe essa minha insistência em abrir um buraco, e sair do outro lado da porta, do mundo, da rua. Ando desenhando em cima dos relatórios e das faturas de cartão. Ando dobrando canudos e fazendo esculturas com arame de biscoito. Olho para o relógio e não vejo sentido: quem deveria estar caminhando era eu, não ele, o ponteiro. Perdoe essa minha briga com o comum, talvez seja só preguiça pra fazer qualquer coisa que não dá vontade. Tudo na vida deveria ter entusiasmo. Eu sei que é um sonho, eu sei. Mas quão bem-feitos seriam os pães, as ligações, as entregas de pizza, as faixas pintadas no muro. Queria pôr um pouco mais de arte nos dias, porque arte é o espaço arranjado para a imaginação. Eu me alio aos cobradores de ônibus, que andam para os caminhos todos e não vão a lugar nenhum. Aos caixas de banco, que entregam dinheiro e quase nunca participam da realização dos sonhos. Aos vendedores de bala que não podem perder tempo sequer mascando chicletes. A eles, minha verdadeira solidariedade. Há que se ganhar a vida, eu sei. Mas há que se colocar mais vida no dia que se ganha. Interpelar as pessoas, conhecer, gostar do que ninguém gosta, fugir cinco minutos, parar pra ver uma reportagem na tv. E sonhar, como eu, que vai largar tudo para viver do que se tem vontade. Pode ser que não aconteça. Mas esses minutinhos – apenas sonhando- já vão fazer valer muito mais o seu dia.

Um comentário:

  1. É incrível a sensação ao final de cada texto... Num breve espaço de tempo, olho para o nada e ao mesmo tempo já estou novamente com atenção completamente fixada em ti. Beijão enorme.

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Fico muito feliz com a participação de vocês. Quem preferir pode mandar um email: lubacoli@hotmail.com. Obrigada!