segunda-feira, 21 de novembro de 2011
de barros
mas por enquanto
arvoreço de amar.
eu tenho urgências de amar
no passe-turno da tarde
meu coração urge e arde
por um bocadinho de conversê
me dei conta que na minha
vida, preciosa mesmo é a simplicidade
é a sensibilidade
cuidar pra tratar de não endurecer.
domingo, 21 de agosto de 2011
A doçura não sabe
encontrar paz em mim
os meus ventos
são como sopros
de lá de longe
só se ouvem ruídos
mas aqui dentro
como mora o embaraço
queria eu poder
ter outro canto
seria bom se todo dia
a gente soubesse viver
mas quando a gente é
e sobretudo
quando é do avesso
a vida é uma corrida
de uma perna só
Me pediram
pra descer do alto
pra endireitar os modos.
Desculpe. Não fiz.
Alma de poeta
se descuida
porque se alimenta
de delirios.
Dá mais trabalho nascer de si mesmo.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Luise quer fazer mais
Contando os dias pra fazer uma
Coisa que eu ainda nem sei o que é
O que eu tenho é isso
Essa coisa amorfa de nome sentimento
O desejo de ocupação
Ocupar a tarde de coisa alguma
Que não é exatamente esta
Horas penso numa imagem
Em um punhado de palavras encaixadas
Dizem que posso chamar de arte
Arte
Seria isso
Essa coisa que falta?
As vezes acho que é propriedade
Um amor próprio
Mas não amor por si
Amor por outra coisa que você ame
Em tempo, só
Paixão sem companhia
Dedicando uma razão de vida
As vezes penso que disso aqui ja tem demais
Letrinhas
Poemas
Falta é fazer
Fazer por mais gente
E tanta gente aí pra começar
Falta colocar a mão na massa
E mão na massa
É arte.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Espumar
Ele nao gosta de fazer muitos alardes
eu faço de tudo uma poesia
já tinha algum tempo
que estávamos enxutos
mas eu ainda estava lá, com certeza estava
sem pressa de sair
conversando com os ruídos espumeiros
Era uma sensação tão leve
que nesse intervalo podia até sentir saudades
mesmo ele estando ali
lendo um livro ao meu lado
Ele falava de alguma coisa
mas os meus ouvidos ainda estavam zunindo
minhas palavras afogavam-se por vontade própria
Estava tudo ali
feito espuma
os braços,
os ditos,
os ritmos
o som que cantei para mim
só para embalar os pensamentos
Foi o segundo mais longo
que já vi nascer
de toda a memória
Um segundo que nunca tinha
pressa de acabar
Mergulhei ali.
Por um tempo incalculável.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Eu sempre achei que ia chegar o dia, o final de semana, de parar pra descansar. De ficar só mesmo ouvindo os passarinhos. De sosssegar nas presenças. Desaparecer do mundo. O dia em que SER bastasse. Achava que nesse dia ia sentir amor. Mas aí acordo e o mundo já se moveu todo de lugar. E o que era sozinhos, já é junto com mais. E o que era um silêncio, já é um alvoroço.
Eu mal arrumo a casa aqui dentro, mudamos de casa. Mal mudamos de conversa, e alguém se muda pra perto de nós. E o dia que era cinza muda para um dia de girassol. Que muda para um dia cinza na quarta. E mudas com plantas na varanda. E por que você nunca muda? E quando penso que tudo enfim é paz, eu mudo de humor. Decidimos então mudar tudo e o que fazemos é mudar de canal. Tiramos o sódio, botamos mais sódio. Abrimos as janelas, nos enchemos e esvaziamos de visitas. Enquanto eu penso sobre ter um plano de vida, já entramos em um projeto. Em mais um curso. Em mais um negócio. E eu querendo entrar só pra dormir. E dizemos bom dia pra compensar a noite. E dizemos boa noite pra ver se o dia aparece melhor. E nos queremos imensamente hoje. E amanhã é tanta coisa já nem sei. Mas vem aí o fim de semana, quem sabe para descansar, para ouvir os passarinhos. Mas não.
O nosso amor vai ser sempre movimento.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
BARRIGA
Não tem mazela ou doído que possa me ocorrer que uma grávida não me cure. Acontece assim. Eu venho quase me esvaindo em noites de pensamentos, com os olhos já saltados fora da cara, o peito sem muito querer e de repente, grávida. Me posiciono então bem em frente ao seu umbigo. Eu quis dizer à imensidão do seu umbigo. Não há mais mazelas. Aquele silêncio inteiro que ela abriga, me ocupa. Sinto vergonha de falar qualquer coisa para não acordar a doçura do mundo. A grávida me olha com olhos cansados, por levar de um lado a outro o seu trono. Eu me dobro, com cumplicidade. Ela vem, em seu andar cambaleante, com as pernas foras da reta, num sacrifício imenso de viver. Passa com aquele monte de milagre, na graça de uma manhã de domingo, mas eu juro que nem tinha percebido. Passam ela e a manhã, com um ensolarado de cegar os olhos. Esbanjam o hálito fresco das horas, a sintonia entre seus galhos, seus ninhos, seus ruídos, seu escancarado azul. Me atravessam, eu pobre, na calçada, como se fosse a única a não saber. Passam cheias de certeza para terminar de ninar o mundo. A grávida pede licença aos meus pensamentos atribulados. Eles se calam. Ela faz o anúncio de uma chegada breve, seu umbigo quase empurrando a realidade. Eu escuto. Ela segue se balançando e não há mais nada em mim há não ser esse respeito branco. Levou ela até as últimas palavras alheias, os trapos de outrora. Deixou talvez, esse punhado de amor para aplacar meus silêncios.
quinta-feira, 31 de março de 2011
Alguém nasceu na quarta de cinzas.
Palavra nasce de mim boca aberta pro mundo. Assim como um bueiro na rua, arrotando um bocado de ontem pra quem passa recolhido em guarda-chuva. Palavra é minha sina, para não ficar chorando com olho de menino em vitrine. Há muito tempo me separei dela. Deixei-a caída como uma criança esquece seu carrinho de rolimã. Minha palavra quase morreu de frio. Mas eu sou palavra-hora. Sou esse canto sentido do mundo, `as vezes tanto, `as vezes mudo. Sou essa letra que venta, sou um pulsado que cansa, sou de um todo que empurra, que quer existir para além. A palavra em mim apenas dança. Que é o autor senão o palco, que é coitado, senão o refém? Uma palavra me passa, abraço palavra também. Que sejamos uma, prontas, inteiras, entregues, para o sopro que acende o fogo, para o que corta e não se vê. Pedi palavra pro mundo. E ela me veio acontecer. Sejamos o que sempre pela primeira vez.
09/03
segunda-feira, 28 de março de 2011
Sala sua vida - ao lado do corredor.
E de repente, um peso. Veio de cima aquela mão, com vocação para corpo inteiro, e desabou sobre meus ombros. Assim, sem a menor dúvida, sem vacilar, como um homem-mandado para o seu trabalho. Comprimiu então aquela massa, que até ali era eu, e avançou sem nenhum pudor sobre minhas dores recolhidas, esmagando espaços, fibras e melindres com um polegar trator.
Em um golpe só, agarrou meu braço com força - como certamente costuma fazer com o destino - e puxou-o para baixo, de uma forma que me fez cair por cima das horas, despencando dos pensamentos mais altos e desabando sobre este minuto - o único que existia.
Na verdade, pouco sabia ela das minhas inquietações. Elas as amassava, num movimento frenético. Pouco importava o silêncio, porque para ela o estalo, o estalo é que tinha que ser alto e forte, assombrando a preguiça e a vontade de passar a vida no mesmo lugar. Curioso é que na semana passada, tinha sido completamente diferente. Um rapaz com um olhar oriental tocava a vida com extrema delicadeza, como se soubesse mais do que os outros das suas formas, da sua textura de veludo, da sua fragilidade balançando no ar. Não forçava nada, nem fazia barulho algum. Cheguei a duvidar se alguma coisa estava realmente voltando para o lugar. Mas quem é, quem é que não fecha os olhos e se entrega, quando sente que a vida está lhe levando em calmas mãos? Quando lembra de ser tocado por inteiro por dedos de útero? Praticamente dormi.
Mas ela não, ela era sem medidas. Amassou com toda força a dor que tinha se agarrado à minha coluna, e antes que eu fosse embora disse cuidado com a postura. Se passa muito tempo curvada, um dia você tenta voltar e não consegue mais.
Consenti silenciosa. Já era mesmo hora de erguer o peito.
segunda-feira, 21 de março de 2011

Do que para uns era ela
Uma menininha, um malabarismo
Entre sorrisos e pontas de pés.
Do que para outros, era chama
vivente e errante nos grandes
olhos escuros, gulosos.
Do que para outros ternura.
E para os que mais de perto,
Terremoto.
Mas era pra tantos doçura,
que deles recebia o que
enchia seu canto.
Poucos a viam em silêncio,
o que nada dizia, mas trazia dor.
Mas no que muitos viam, descansava:
Essa coisa escancarada
sem dono, nem página
inquieta, descabelada,
uma carreata de amor.
quarta-feira, 16 de março de 2011
VESTIDA DE FLORES
Acaso você nunca nasceu
com um punhado de flores acoroadas
trepadas feito jabuticabas no pé
bem agarradas no seu tronco
Por acaso você não tem os olhos manchados
de tantas cores das bromélias e girassóis
uma confusão só das tintas todas
enchendo seus dentes e dedos
Por bem nunca aconteceu na sua manhã
do sol mudar-se para sua casa
de passar perninha por perninha pela sua janela
sentar-se em sua cama para uma prosa
e sua ciranda nunca girou girou
e seu corpo nuca teve vontade de ir atrás do pedalinho do menino
e você nunca teve vontade de descer rolando a ladeira
e rolar por ela todas as suas vontades
e suas mãos nunca foram um aplaudir de pé
e seu dia ainda não foi um infinito dia?
e seu cascalho nunca foi todinho vivo
de miudezas brancas e um cheiro de mato?
pois é assim que está me acontecendo agora.
poesia saborética
Poesia saborética do cotidiano
Anote aí sem preconceito algum
3 coxas de frango
uma latinha de atum
3 pacotes de batom
e um pão de alho enfileirado
Anote um sabão normal,
desses de esfregar a mão
e o de tubo
- coisa de gente vaidosa
Tome nota da pasta de dente,
mais conhecida como creme dental,
do refri de todo dia
um suco de uva de qualidade
e frutas que já venham cortadas
homenagem mor à preguiça
Tome conta desse Minas-padrão
homenagem à toda linhagem marital
e um potinho de requeijão
nessa poesia quase cotidiana
nessa riqueza toda de feirinha
a nossa lista em cima da mesa
o nosso amor escrivinhado na cozinha
Coisa de nós dois
tão singela
um parzinho de lingüiça apimentada
ria como for, meu amor
é nossa poesia de segunda-terça-quarta.
terça-feira, 15 de março de 2011
Mineiríssimo
Do que ela me disse já na porta de casa: é que mineiro gosta de cumprimentar dando abraço. Mas o caso é que é mesmo.
Mineiro gosta de abraçar a vida. Abraçar sem preguiça quem chega em casa. Abraçar suas vontades, sua felicidade, com um punhado de prosa, com mesa pronta. Mineiro só é miudinho no jeito de falar. De resto, é um escancarado coração pro mundo. De não caber de tanta gente que adota pelo caminho, fazendo de cada vida um bocadinho da sua. É um sorriso portas-abertas, do nascer do dia ao cansar do sol. Mas não se engane pensando que nessa colcha de lã, não existe os nós fora de linha, o desgoverno da agulha. Que a chama que moldou a caçarola, não ardeu na pele. Mineiro conta suas contas. Remenda suas dores. Silencia seus cantos. E amanhece inteiro pra fazer o melhor que pode de cada dia, com o mesmo gosto com que faz os seus doces. Sábio quem recria a vida, e ainda acerta pôr um sopro de canela. Mineiro acredita que a vida é "bôua", e deseja tanto isso pra quem vem. Mas a vida só é boa porque tem gente assim, que põe mais amor em tudo que faz. Que entrega os braços para o trabalho, e o pensamento pro alto, pra não perder o trem.
Da próxima vez que um mineiro te convidar, não perca a oportunidade. Abrace e seja mineirim também.
segunda-feira, 14 de março de 2011
VEM AÍ

Continuo feliz-feliz com o aniversário que está vindo. Eu acho que é isso: eu nino meu aniversário, como um bebê que nasce, e que tivesse mesmo que ser feliz. Eu preparo seu quarto, arrumo suas cortinas na janela, ponho as cores amarelas, azuis , brancas, em cada cantinho. E encho de perfume esse tempo de vida, esse espaço-quarto para tantos sonhos, numa mistura de agradecimento e pré-abraço. Recebo com o cheiro de mar. Recebo com os olhos brilhando. Toda vez que ele vem chegando, sinto. Mas não me sinto apenas, aquela que vai soprar a velinha, mas sinto todos. Sinto todos com um sorriso imenso. Aqueles que fazem meu coração pular, que já dividiram comigo dias dos mais gostosos, momentos que parecem cenas de filmes na minha cabeça. E como elas vêm e vão, como pequenos curtas, me fazendo sorrir mais e mais. Sinto todas. E quero por perto. Para ouvir, para falar, para abraçar dessa forma diferente, com a vontade que viaja e atravessa. É dia meu, é dia nosso, é dia deles. É uma festa de um tempo novo que quer nascer. Vamos colocar nossos chapéis de novos pensamentos na cabeça. Vamos pegar nossa língua de sogra de novas palavras, soltas e livres, indo e escapulindo dos lábios. Vamos petiscar nossos momentos-doces, achocolatas manhãs, tardes de silêncio e paz. Vamos encher as nossas palmas para aplaudir a vida e pedir por ainda mais amor, como quem enche o teatro e o peito. É uma festa com você. É uma festa de todo dia, do dia que continua, com um entusiasmo recém-nascido. Venha que vamos.
Feliz dia que inaugura tempo novo.
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Nem parece verão em sampa. Acabei de chegar e o friozinho matinal já nos encontra, naqueles velhos olhos brancos da cidade. De punjante e urgente, só o verde. Há um derramado de verde por toda parte, molhado e vivo, como se fosse uma primavera para aquela cor. Caminho sob o hálito das flores, o macio tapete de grama, a permissão dos insetos e o babuciar de um passarinho, que como eu, também aprendeu a viver tranquilamente ali – apesar da estradinha de asfalto. Respiro os ares da cidade. Da minha cidade. Seu bocadinho de chão, seu silêncio cheio de liberdade para um livro, um pensamento. É tanta calma nessa cidade sempre nova, mesmo que todos saibam de suas urgências. Quase danço sob o frio e as histórias que estou ouvindo. Podia até sentir saudades do sol. Mas não, eu entendo, é quase como uma compaixão, deixá-la ser. Essa chuva..ah, essa chuva é só o jeito de amar de sampa.